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A terra treme em Porto Velho

MONTEZUMA CRUZ*

Originalmente no Cool do Mundo, de Vilhena

 

Alto Madeira capa da edição de 19 de janeiro de 2022/Reprodução

Já sob a direção do médico baiano Joaquim Augusto Tanajura, em 19 de janeiro de 1922, ano do centenário da Independência do Brasil, o jornal Alto Madeira exibia na 1ª página da edição nº 487, "telegrammas" de "Manaos", Capital do Estado do Amazonas; navios vapores que zarpavam; e um tremor de terras percebido em Porto Velho.

A gerência administrativa era de Cincinato Elias Ferreira. O jornal ainda não publicava clichês, apenas noticiou o fato. Clichê era uma placa de metal com zinco, ou, depois, de borracha ou fotopolímero; nelas saíam imagens em relevo.

Na íntegra e na linguagem em 1922:

"No dia 16 do corrente, as 11 1[2 horas da noite pouco mais ou menos, deu-se nesta cidade um tremor de terra. As casas trepidaram fortemente, sahindo alguns de seus habitantes para a rua.

"Os móveis, perdendo o estão de repouso, oscilaram sobre o seu ponto de apoio. No mez passado o mesmo phenomeno foi notado nesta cidade, as 11 horas do dia 18, sendo mais rápido do que o último."

Observações deste repórter: naquela época, estudos sobre ocorrências de tremores deviam ser raridade. Atualmente, sismógrafos e sismômetros instalados da Universidade de Brasília, revelam a localização e a intensidade (medida na escala Richter) desses fenômenos. Aqui na Amazônia Ocidental Brasileira mesmo, fortes tremores no Peru são sentidos em Cruzeiro do Sul (AC), e até mesmo em Rio Branco (AC) e Porto Velho.

Sismógrafo fabricado por chineses localiza epicentro de tremores/ Foto Ibrachina

Além do tremor ocorrido em alguma placa tectônica sul-americana vizinha ao Amazonas e 21 anos depois Território Federal do Guaporé, algo mais atraía o leitor do Alto Madeira naquela 1ª página: o folhetim novelesco "As 13 noivas", escrito por E. Lloyd Sheldon.

No capítulo VIII ele relata que o tenente Morgan penetra no calabouço do navio, após a retirada do seu pessoal e o lançamento de uma poderosa carga de dynamite. Mantenho a grafia da época.

O texto emocionado:

"(...) Então Morgan, disfarçando-se com a roupa de uma das moças, sahe e vai ao encontro dos miseráveis. Chegando junto d'eles apodera-se do archote e, servindo-se dele como de uma massa d'armas, trava lucta e abre caminho até o mar.

"Ahí, atira-se ás águas e nada em direção ao submarino. Graças a escuridão os bandidos perdem-o de vista e julgam-o morto. Elle aborda o submarino, domina sem grande esforço os poucos miseráveis que ali estão de guarda, e penetrando no compartimento de telegrafia Marconi da primorosa embarcação, começa a telegraphar para o Ministro da Marinha pedindo socorro.

"Infelizmente os que estavam de guarda no barco fugiram e foram dar alarma a seus companheiros na ilha. Os bandidos não tardaram a vir, sedentos de vingança. E um d'eles penetra na câmara do submarino quando Morgan ainda está telegrafando (...)"

E assim, numa cidade onde a pequena população não dispunha de outro meio de comunicação, senão o jornal e o telégrafo instalado em 1909. No mais, as pessoas liam textos redigidos por Joaquim Tanajura e colaboradores, ou captados pelo fio telegráfico, do noticiário nacional e internacional de agências.

O rádio só seria inaugurado no Brasil em 7 de setembro daquele ano de 1922, durante as celebrações do centenário da Independência, quando a transmissão pioneira feita no Rio de Janeiro divulgou o discurso do presidente Epitácio Pessoa.

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

Do incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT, seringal nativo rondoniense "ressuscita" sem apoio

Do incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT, seringal nativo rondoniense"ressuscita" sem apoio

MONTEZUMA CRUZ*

Látex extraído em seringual nativo da comunidade Canindé, na Rexex Rio Cautário (Foto Frank Néry)

Porto Velho ainda pertencia ao Amazonas no final de fevereiro de 1943, quando o diretor do Banco de Crédito da Amazônia), Ruy Medeiros, visitava a Associação Comercial de Porto Velho, lotada de seringalistas. Ali, ele expôs o plano de ampliação da extração do látex. E assim, o chamado Banco da Borracha realizou várias operações de crédito. Atualmente, o Governo de Rondônia dá especial atenção às Câmaras de Carne, Café, Leite, Soja, mas se omite em relação ao látex que protagonizou um ciclo econômico no extinto Território Federal do Guaporé.

Enquanto o governo rondoniense dá vivas ao agro, que aqui supera o valor básico de produção no País, a borracha corre ao largo dos "primos pobres", desconhecendo-se os seus números de produção e venda.

Em alguns velhos seringais da Amazônia Ocidental, as famílias que trabalham no setor não dispõem de utensílios para a coleta, barracões e até energia elétrica.

Em 1943 o jornal Alto Madeira noticiava a visita do diretor do Banco de Crédito da Amazônia (reprodução

Nos anos 1940, o entusiasmo era grande. Afinal, vivia-se o Ciclo da Borracha nos confins amazonenses, acreanos e mato-grossenses. Segundo o jornal Alto Madeira, então dirigido por Inácio de Castro em sua edição de 26/2/1943, a mobilização econômica da borracha "é um dos grandes acordos assinados em Washington, DC (EUA), entre os governos brasileiro e norte-americano.

Atualmente, pouco se sabe do setor. Nem a vida dos seringueiros remanescentes, nem a comercialização da borracha aparecem nos observatórios econômicos criados pelo Governo de Rondônia. Mas o setor existe e trabalha quase silenciosamente no interior de Unidades de Conservação, onde o subsídio do quilo do látex de seringueira nativa é pago a R$ 2,30 pelo governo estadual, enquanto a borracha de seringais de cultivo recebe R$ 1,30.

Em algumas dessas áreas trabalha a empresa franco-brasileira VERT Veja pagando R$ 15 o quilo da borracha bruta, com bonificação que alcança R$ 17,30 e R$ 20,30 pagaria, se o subsídio fosse pago em dia.

A empresa atua também no Acre, adquirindo cada vez látex de seringais nativos, porque a qualidade dele apresenta densidade 30% mais forte do que a de seringais de cultivo e garantem melhores produtos. A VERT Veja trabalha desde 2004 com objetivo de produzir tênis conectando projetos sociais, justiça econômica e materiais agroecológicos.

Este repórter constatou em Novo Hamburgo (RS) neste novembro de 2025 o resultado das compras de látex pela VERT Veja em Rondônia. Com ele, a empresa francesa-brasileira se dedica atualmente à fabricação de calçados da linha branca, destacando-se o conhecido sapatênis.

Em 2024, o vice-governador de Rondônia, Sérgio Gonçalves, em reunião na Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), da qual era titular, prometeu à Organização dos Seringueiros de Rondônia, recursos para a aquisição de equipamentos que seriam distribuídos a comunidades de seringais nativos e hoje reutilizados. Não cumpriu o compromisso. 

Rondônia possui 30 terras indígenas, 25 reservas extrativistas. No conjunto, 63% são áreas protegidas. A Resex do Rio Cautário está dividida em sete comunidades: Águas Claras, Canindé, Ilha/Jatobá, Lago Verde, Laranjal, Ouro Fino e Vitória Régia. Entre 30% e 33% são áreas de uso sustentável, terras indígenas e unidades de conservação. Há uma população de 15 mil pessoas, cuja tradição é pautada no extrativismo.

A importância da retomada dos seringais nativos é tema da professora Rosalina dos Santos Dias, descendente de extrativistas, que estudou o setor e analisou economicamente sua viabilidade, com o projeto de manejo florestal da Resex Rio Cautário. 

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

Madeira-Mamoré recuperou locomotiva alemã em 1943

Por Montezuma Cruz*
Originalmente no Varadouro (Rio Branco)

Mogul, máquina maria-fumaça alemã recuperada nas oficinas da EFMM em 1943 (Foto Acervo da RFFSA)  - Gente de Opinião
Mogul, máquina maria-fumaça alemã recuperada nas oficinas da EFMM em 1943 (Foto Acervo da RFFSA)

Porto Velho salva locomotivas desde o início do Território Federal do Guaporé, em 1943. A mecânica com a utilização de mão de obra local vem de longe. Atualmente, a recuperação do mínimo patrimônio que restou da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré é o que pretende fazer a Prefeitura.

Após décadas de inatividade, recentemente o prefeito Léo Moraes (Podemos) festejou a recuperação da locomotiva 18 (de fabricação alemã, em 1936). No dia do aniversário de 111 anos de Porto Velho, ele próprio subiu no trem e fez eloquente discurso ao público presente no pátio ferroviário.

Porto Velho ainda era Amazonas. O Território Federal do Guaporé seria criado em 13 de setembro de 1943 pelo Decreto-Lei nº 5.812. Sete meses antes, na edição nº 2.664, ano XXVI, em 25 de fevereiro, o bissemanário Alto Madeira publicava em sua 1ª página "a vitória dos operários da Madeira-Mamoré."

A informação se referia às oficinas de locomoção da ferrovia, onde a locomotiva tipo Mogul nº 13 (fabricada pela North British Locomotive Company), que havia sido acidentada. A administração inglesa da EFMM já considerava a máquina "imprestável" e solicitava ao governo a permissão para importar uma caldeira - relata o jornal.

Locomotiva norte-americana nº 18 volta aos trilhos graças a um grupo de mecânicos do município (Foto Divulgação) - Gente de Opinião
Locomotiva norte-americana nº 18 volta aos trilhos graças a um grupo de mecânicos do município (Foto Divulgação)

A volta da locomotiva 18 foi o ponto alto das celebrações e passou mel nos lábios de crianças, jovens e idosos da Capital rondoniense, porque a equipe responsável pretende revitalizar o complexo ferroviário como atração turística. Tal qual, nos anos 1980, o ex-governador Jorge Teixeira de Oliveira fez ao inaugurar o trecho de sete quilômetros entre Estação Central e Santo Antônio, hoje bairro que nem de longe lembra a velha cidade à margem do Rio Madeira.

"Recuperamos peça por peça, incluindo a complexa parte da caldeira, isso é patrimônio de nós todos e precisa ser valorizado", declarou na ocasião.

No AM de 1943:

"Agora o Sr. P. Vilanova, competente e esforçado chefe da Locomoção, com os recursos daqui mesmo e somente com o auxílio dos operários sob sua digna direção conseguia reparar a locomotiva 13, fazendo-a voltar ao serviço dentro de poucos dias, pois as experiências feitas deram resltados completamente satisfatórios."

Alto Madeira noticia o feito da EFMM e elogia a empresa (Reprodução) - Gente de Opinião
Alto Madeira noticia o feito da EFMM e elogia a empresa (Reprodução)

Para o jornal, então dirigido por Inácio de Castro, isso representou "grande vitória do operariado". E felicitou a direção da EFMM pela volta da locomotiva, "que assim vem aumentar a nossa capacidade de tráfego ferroviário."

A volta da locomotiva 18 foi o ponto alto das celebrações e passou mel nos lábios de crianças, jovens e idosos da Capital rondoniense, porque a equipe responsável pretende revitalizar o complexo ferroviário como atração turística. Tal qual, nos anos 1980, o ex-governador Jorge Teixeira de Oliveira fez ao inaugurar o trecho de sete quilômetros entre Estação Central e Santo Antônio, hoje bairro que nem de longe lembra a velha cidade à margem do Rio Madeira.

"Recuperamos peça por peça, incluindo a complexa parte da caldeira, isso é patrimônio de nós todos e precisa ser valorizado", declarou na ocasião.

Na mesma edição do Alto Madeira em 25 de fevereiro de 1943, informa-se que Guajará-Mirim (ainda Matto Grosso), na fronteira Brasil-Bolívia e um dos extremos da Madeira-Mamoré, comemorava o Decreto Real de 18 de janeiro de 1943, do Governo Helênico sediado em Londres e do ministro da Grécia em Buenos Aires, criando o Vice-consulado da Grécia naquele município.

A repartição era confiada ao empresário Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, que foi gerente da Guaporé Rubber Company.

"Recolonização em alta escala"

Na mesma edição, o Alto Madeira noticiava a presença de técnicos em Manaus, "para a fixação de migrantes nordestinos acossados pela seca." O texto enfatizava que essa migração já ocorria "há longa data para o Acre", com êxito para o antigo território federal.

Naquele período conhecido pela "Batalha da Borracha", o "Estado Novo" do presidente Getúlio Vargas organizou um plano de fixação de migrantes para a região. A 2ª Guerra Mundial iniciada em 1939, terminaria em 1945.

O jornal porto-velhense saudava essa nova fase: "Espera-se que o trabalhador nordestino, que já demonstrou sua eficiência nos tempos em que imigrava desamparado de qualquer apoio, agora que conta com a proteção do governo, possa constituir-se elemento precioso para o aumento da produção e incremento de uma região rica, extensa e despovoada como é a nossa Amazônia."

Nessa mesma edição pesquisada pelo Varadouro, em sessão do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, o então general Cândido Rondon falou a respeito da proposta enviada pelo Vaticano para Ministério do Exterior, para a realização de um contrato com o Governo Brasileiro, no sentido de as missões católicas ampliarem sua ação no País, "encarregando-se da catequese sistemática dos índios."

Conforme Rondon, isso implicaria "a anulação da administração política do Serviço de Proteção aos Índios", criado e regulamentado por decreto em julho de 1910.

Porto e Dr. Medeiros

Naquele tempo, o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (SNAPP) anunciava no jornal. Atualmente, a Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Rondônia (SOPH), que recentemente recebeu delegações chilena e boliviana de olho no uso de suas instalações, nem aparece na relação de secretarias, superintendências e órgãos públicos, no portal do governo estadual.

O anúncio de Renato Medeiros, se resume às qualificações e especialidades: o "médico da EFMM" publicava: "Ex-interno da Santa Casa do Pará ex-interno da Clínica Cirúrgica do Dr. Apio Medrado, e adjunto do gabinete de raios X da Santa Casa e da Beneficência Portuguesa; cirurgia de partos e raio X."

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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