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Mader ajudou mineração que ainda desconhecia a “pedra da cura”

Mader ajudou mineração que ainda desconhecia a “pedra da cura”  

MONTEZUMA CRUZ*

Pedra de topázio: sonho industrial ficou nas calendas (foto: Ana Tomish)

O negócio mineral começou a prosperar no final da década de 1960, quando já se detectava a presença da pedra topázio. Em seu governo, o coronel João Carlos Mader apoiou grandes grupos que chegaram a Rondônia para substituir garimpeiros. Pelo que pesquisei no DOC, da Câmara dos Deputad0s, ele desembarcou em Porto Velho já filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do governo ditatorial.

No dia 8 de abril de 1970, o Congresso Nacional aprovava a emenda das eleições diretas em 11 estados e elas foram realizadas em outubro; em 27 o presidente Castelo Branco decretava o Ato institucional n° 2, extinguindo os partidos políticos.

No artigo anterior eu lamentei que nunca interessou à Transparência Governamental mostrar resultados, nem ao Governo Estadual promover algum evento que demonstre a riqueza mineral rondoniense, notadamente a cassiterita.

Coronel João Carlos Mader: o governador que apoiou o Código de Mineração (Foto Wikipédia)

Atribui-se a escolha do coronel João Carlos Mader à sua permanente atuação em prol do setor mineral no Ministério das Minas e Energia, escrevi em meu livro “Território dourado (Imediata, 2025). Mader contribuiu para a redação do Decreto-lei n.º 227, o Código de Mineração, emendado em julho de 2017 para a criação da Agência Nacional de Mineração, e até hoje em vigor.

Alegava-se que a lavra do minério de estanho (cassiterita) era onerosa devido à falta de energia elétrica. Porto Velho utilizava usinas termelétricas, enquanto o interior movia-se com motores particulares até se livrar da escuridão, o que demorou alguns anos.

Iniciada em 1982, a Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari, só funcionou 14 anos depois, quando empresas mineradoras com sede no Rio de Janeiro já encerravam as atividades, deixando crateras cheias de lama, muitos desempregados e árvores medicinais tombadas por suas máquinas gigantes. O mulateiro (regenerador de pele), por exemplo, foi uma delas, mas esse é outro capítulo da história botânica e mineral.

Dez anos depois das incursões do seringalista Joaquim Pereira da Rocha pelas terras dos seringais Angustura e União (início dos anos 1950, onde mais tarde surgiria Machadinho d’Oeste), o Decreto nº 1665 de 26/11/1962, publicado no dia seguinte no Diário Oficial da União, também autorizava Moisés Benarrós Israel a pesquisar cassiterita na área de 500 hectares denominada São Lourenço, na confluência dos Igarapés Sauvinha e da Desgraça, no município de Porto Velho.

Nesse cenário em que são lembrados os empresários Rocha, Moacir Mota e Flodoaldo Pontes Pinto, o Sr.Benarrós só veio a ser incluído quando professores da UNIR começaram a apurar a história do ciclo mineral – de 1990 para cá.

Apurou-se que o título da autorização de pesquisa custava naquela ocasião a bagatela de cinco mil cruzeiros e valia por dois anos. Normalmente, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) renovava as pesquisas.

De sua parte, a Mineração Brasileira Estanho Ltda (Mibrel), do Grupo Paranapanema (mais tarde vendido a um grupo peruano) começaria a trabalhar na década de 1980, coincidindo com a descoberta do Garimpo de Bom Futuro, em Ariquemes – considerado, a céu aberto, o maior do mundo.

Em 1986, quando suas terras foram ocupadas por garimpeiros também interessados na mina em Massangana, essa empresa detentora de lavra desde 1972 considerava-se “estritamente brasileira” fazendo contraponto, por exemplo, à Brascan (Brasil-Canadá) e, assim, lançou nota no jornal “Alto Madeira” protestando contra “a invasão por grupos de indivíduos que começam dilapidar o patrimônio do País.”

Exageros à parte, na verdade, a Massangana pretendia demonstrar seus investimentos no setor.

A nota falava em “desordem e intranquilidade”, acusando “indivíduos com interesses escusos (...) de operarem a mando de grupos internacionais de joalherias e pedristas, aos quais interessava desestabilizar totalmente o mercado produtor, pulverizando para pagar preços baixos pelo minério sem necessidade de investimentos.”

Para a Mibrel, que investira no negócio 280 milhões de cruzados [moeda daquele período] não havia dúvida: a situação causada pelos garimpeiros resultava na evasão de divisas ao estado e ao País. E a vila, com 2 mil pessoas, segundo a empresa, estava “disposta ao progresso”, mesmo enfrentando 11 mil casos de doenças diversas, notadamente a malária.

Alegava ainda “ter conservado a BR-421 e concluído a ponte São Jorge, beneficiando toda a margem esquerda do Rio Jamari e mantido a balsa que fazia a ligação entre as duas margens do rio, possibilitando a colonização agrícola.”

Em 24 de maio de 1986, a Associação do Serviço Médico em Massangana publicava outra nota afirmando que seus profissionais cadastrados no Instituto de Administração Financeira da Previdência Social prestavam grande assistência aos habitantes das linhas: “Somente em 1983 foram atendidas 3,8 mil pessoas; em 1984, só com malária, 509; em 1985, 10 mil atendimentos, cada um custando em média 800 cruzados; em 1986, 4,9 mil pessoas recebiam remédios e consultas, e cinco partos normais foram feitos ali, juntamente com exames de sangue, RH, VDRL [para sífilis], prognósticos, bacterioscopia e lâminas para pesquisas de malária.”

Em meados da década de 1990, a empresa negociou a mina depois pertencente à Cooperativa Estanífera de Mineradores da Amazônia Legal Ltda. [Cemal], detentora dos direitos minerários e que em 2005 estabeleceu parceria com um grupo de Hong Kong.

Entrada de Monte Negro município do Jamari, a 249 quilômetros de Porto Velho (Frank Nery)

Esse grupo estrangeiro atuou no município de Monte Negro, estimulando a produção de topázio e obteve qualidade, uma vez que as pedras encontradas na região são detentoras de características únicas. Segundo geólogos especialistas, passando pelo processo de bombardeamento para coloração muito mais rápida do que qualquer pedra do mundo.

Obteve-se naquele período aproximadamente 80 toneladas de concentrado de óxido de estanho, a cassiterita.

Monte Negro surgiu como núcleo urbano de apoio rural do Projeto de Assentamento Dirigido Marechal Dutra [do Incra] com o nome de Boa Vista, entretanto, por ser homônimo da Capital do Estado de Roraima teve o nome mudado depois da emancipado, em 1992.

Saberia Mader que o topázio é considerado na litoterapia a “pedra da cura”? Certo é que os estudos vieram a se consolidar depois, no DNPM em Brasília, justamente quando ocorria a expansão agrícola. Em 2019, o Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia (Rioterra) iniciava um diagnóstico para propor alternativas econômicas na região do Jamari.

0 então coordenador de Projetos do Rio Terra, Alexis Barros, justificava: “A mineração acontece em muitas partes do estado e cerca de 80% é manual, artesanal, podemos até chamar de garimpagem. Precisamos levar dignidade a essas pessoas, com investimentos privados e do terceiro setor.”

A conversa e o compromisso animavam o então superintendente de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Gonçalves, que demonstrava satisfação com a parceria da organização. O secretário se dispunha a minimizar impactos da mineração e a lapidar cristais industrialmente em Monte Negro.

Pelo visto...

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.


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Histórias que a transparência não conta – nem faz questão

Histórias que a transparência não conta – nem faz questão


MONTEZUMA CRUZ*    
Com fotos dos blogs: Dinâmica Ambiental e Ana Campana

Cobre - Foto: Dinâmica Ambiental

É por demais conhecida a história mineral rondoniense, mas a sua parte oculta atual segue inalterada. Nunca interessou à Transparência Governamental mostrar resultados, nem ao Governo Estadual promover algum evento que demonstre tal riqueza.

Mesmo sendo o primeiro produtor nacional de minério de estanho (cassiterita) e possuindo minérios estratégicos nas entranhas de seu subsolo, o estado limita sua empresa estadual do setor a operar tão somente com calcário, cujas reservas foram avaliadas em 250 anos.

Criada no primeiro governo do coronel Jorge Teixeira de Oliveira, a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) poderia, em tese e direito, comercializar outros ativos do setor, bastando que a Assembleia Legislativa lhe corrigisse rotas e ampliasse poderes.

Apesar dos pesares e da forte concorrência do empresário César Cassol, a empresa vive comemorando recordes no calcário.

Durante todo o atual governo, porém, permaneceu tão apagada quanto lamparina sem querosene. E olhe que a velha Provincia Mineral, criada oficialmente no século passado, representa 85% dos recursos do estado.

Rondônia já produzia 2.218 toneladas de cassiterita em 1969, representando 91,5% da produção beneficiada nacional. No período da pandemia da covid-19 passava de 10 mil, superando em seguida o Amazonas.

foto - mineral

Do subsolo do Seringal Angustura, o saudoso Joaquim Pereira, saíram as primeiras cargas daquele minério preto e valioso, nos três primeiros anos da década de 1950. Já em 1972 foram retiradas 2.794 toneladas, e em 1973 no auge da extração do minério chegou-se a tirar até 7.300 t, quando a produção correspondia a 80% das lavras nacionais.  À frente, os igualmente saudosos mineradores Flodoaldo Pontes Pinto e Moacir Mota.

Tempos em que, segundo lembra a professora de História e Geografia, Ana Campana, de Vilhena, a “safra” mineral resultava do uso diário de picaretas, enxadas, pás, enxadecos, facões e bombas para retirar a água de dentro das catas. Máquinas gigantes vieram bem depois.

Em outubro de 1976, o então governador do território federal, Humberto Guedes, participava do 1º Congresso Brasileiro de Mineração, realizado pelo então atuante Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no 1º andar da Escola Carmela Dutra.

Incrivelmente, meio século depois Rondônia continua sendo metalmineral sem que os governos movam uma pá no sentido de atualizar suas jazidas, concessões e lavras exploradas. A onda exportadora de grãos e carne parece ter sufocado o antigo e tradicional ciclo econômico que, queiram ou escondam, faz parte da economia estadual.

Por força da Portaria nº 195, editada em 1970, a atividade mineral seria transferida para as mãos de poderosas empresas nacionais e estrangeiras, entre as quais a Brascan (Brasil-Canadá), Brumadinho, e ao grupo nacional Paranapanema (mais tarde vendido ao capital peruano). Garimpeiros expulsos de lavras em aluviões [detalhes no próximo capítulo] cederiam espaço ao moderno maquinário levados por essas empresas para o meio da floresta.

Abunã, Ariquemes, Caritianas, Igarapé Preto, Jacundá, Oriente Novo, Santa Bárbara, São Carlos, São Domingos, São Lourenço, Maria Conga, Massangana e Porto Velho são nomes das principais regiões com amostragens positivas descobertas entre o final dos anos 1960 e início de 1970.

Ocorrências minerais fizeram parte do reconhecimento geológico da Folha SC.20 Porto Velho, parte do Programa de Integração Nacional executado pelo Projeto Radambrasil conto no livro “Território dourado.”

Algumas indicavam imensuráveis jazidas minerais, cujas pesquisas indicaram resultados que, inevitavelmente, substituiriam a lavra manual. À época, o mapeamento geológico, com a interpretação preliminar das imagens de radar foram apresentados em mosaicos semi-controlados na escala de 1:250.000 e complementadas com imagens em infravermelho na escala de 1:130.000 e fotos multiespectrais na escala de 1:70.000.

Embora a descoberta dos depósitos de Rondônia tenha ocorrido no início dos anos 1950, a produção no território começou somente em 1959, quando foram obtidas 10 toneladas de concentrado, relata a pesquisadora Ananelia Marques Alves, do Instituto de Geociências do Departamento de Administração de Recursos Minerais da Universidade de Campinas (Unicamp), em tese de dissertação de mestrado apresentada em 1989

Em 2024, quando presidia a Comissão de Infraestrutura e Serviços, o senador Confúcio Moura (MDB) requereu audiência pública para debater a situação da combalida Agência Brasileira de Mineração (ABM), criada pelo ex-presidente Michel Temer.

Um grupo de parlamentares viria ao estado, a fim de conhecer a realidade do setor, mas os acontecimentos políticos seguintes, na Câmara e no Senado, atrapalharam a programação.

Se hoje o interessado em investir na exploração de metais e minerais buscar a ANM em Porto Velho sentirá o precário atendimento desse órgão, por falta de geólogos, economistas e administradores.

O que lhe sobra são muitas pedras no caminho; uma CMR anêmica e uma ANM malparida entre outras agências nacionais.

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Em 2023 o economista Antônio Teotônio de Souza Neto) dizia-me que o Estado de Rondônia se posiciona como fronteira de desenvolvimento, no setor mineral, oferecendo boa diversidade de substâncias minerais metálicas: cassiterita, chumbo, columbita, manganês, tantalita, wolframita e zinco; não metálicos: areia, argilas comuns, calcário (rochas), cascalho, diamante, rochas britadas ornamentais (granito e afins).  Texto

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

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Quase um século atrás, os "enfermos" de Porto Velho pediam socorro no São José

Quase um século atrás, os "enfermos" de Porto Velho pediam socorro no São José

Montezuma Cruz*

foto - Hospital São José


Só o Hospital São José tratava 169 casos de paludismo em 1934. A malária, doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, viria crescer assustadoramente no auge do período migratório, entre os anos 1970 e 1980. A edição do jornal Alto Madeira em 27 de janeiro de 1935 publicava a estatística do "anno" de 1934, assinada pelo diretor, médico José Collyer. Mantenho a maioria da linguagem médica de 91 anos atrás.


Era o ano da fundação da Universidade de São Paulo (USP); da promulgação da terceira Constituição Brasileira, em 16 de julho. Em 23 de janeiro o presidente Getúlio Vargas assinava o decreto n° 23.793, aprovando o primeiro Código Florestal Brasileiro, e em 6 de julho, o decreto n° 24.609, criando o Instituto Nacional de Estatística (atual IBGE).

O hospital diagnosticava: 49 casos de embaraço gástrico; 44 de "gripe" pulmonar; 26 de blenorragia (genorreia); 29 de úlcera "syphilítica"; 17 de reumatismo articular; 23 de pneumonia; 14 de "syphilis" terciaria; 13 de cancro venéreo; 12 de icterícia palustre; 11 de ascite palustre; 7 de úlcera cancerosa; 8 de reumatismo muscular; 9 de tuberculose pulmonar; cinco de "dysenteria amebiana", entre outras doenças e enfermidades: septicemia, furunculose, escrofulose, queimaduras de 3º grau, carcinoma, envenenamento, gangrena "humida", Albuminuria, "cephalea syphilítica", eclampsia pós-parto, "reumatismo deformante", úlcera duodenal, e choques traumáticos diversos.

Passaram pelas três  clínicas do Hospital São José 735 pessoas. Já as consultas grátis atenderiam 3.800 pessoas que receberam 4.230 receitas com 11.250 fórmulas.

Lá chegavam pessoas com dedos esfacelados, abcessos nas mãos e no pescoço, falanges carentes de amputação, quistos sebáceos, tíbias fraturadas e outros ferimentos que resultaram em 147 operações praticadas com anestesia locale geral.

Caprichoso e atento esse doutor Collyer. Fosse hoje, certamente ele seria também cumprimentado pela Sesau e pelo Ministério da Saúde por contribuir corretamente com as estatísticas nacionais.

Vamos lá:

Dos 12 partos "todos laboriosos" em cinco primíparas (mulher que dá à luz pela primeira vez) e sete multíparas nasceram nove "creanças" – quatro do sexo masculino e cinco do sexo feminino. Quatro mulheres foram operadas para extração de placentas em abortos de três a cinco meses.

A Sala de Curativos atendia gratuitamente 5.450 pessoas, aplicando-lhes 3.850 injeções intramusculares, subcutâneas e endovenosas. Durante o ano morreram 39 pessoas, das quais, seis em novembro. No dia 8 desse mês morria Carlos Chagas, médico sanitarista, infectologista e cientista brasileiro.

1934 foi mesmo um ano especial para a ciência: Em 1934, o médico sanitarista e pesquisador brasileiro Carlos Chagas já era conhecido por seu trabalho no combate a doenças tropicais (malária, especialmente), pela descoberta da doença de Chagas. Ele dedicou sua vida ao estudo dessas doenças e foi pioneiro em descrever completamente uma doença infecciosa, incluindo o patógeno, o vetor, os hospedeiros e a epidemiologia.

Morria em 1934 a cientista Marie Curie uma das mais importantes da história, por suas descobertas revolucionárias no campo da radioatividade. Polonesa nascida em 1867, ela mudou-se para a França, onde estudou na Universidade de Paris e se destacou em um meio dominado por homens, algo raro para a época.

Junto com seu marido, Pierre Curie, começou a estudar substâncias que emitiam um tipo misterioso de energia, que foi chamada de “radiação”. A dedicação de Marie a esse campo levou à descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio e o rádio. Essas descobertas revelaram que alguns materiais podem emitir energia por muito tempo, sem uma fonte externa.
foto - Cópia do Jornal


Cuidados com a pele

Ainda correndo os olhos sobre a 1ª página do Alto Madeira, vejo no pé da página o anúncio do Belayacy, um "magnífico preparado amazonense para a conservação da beleza da pelle". "Use este excelente preparado e sua pelle estará preservada contra: espinhas, sardas, pano, empinges e qualquer affeção. Use-a nas axilas e no busto para eliminar o 'mau cheiro' do suor, conservando-lhe ao mesmo tempo sua pelle aveludada e ricamente perfumada."

foto - Babete Oliveira

Não se trata de remédio, mas nos anos 1980 e 1990, a advogada cabeleireira Bebete Leite Oliveira aplicava nos rostos femininos uma mistura de andiroba com suas massas costumeiras para peles femininas e masculinas. Em Porto Velho, ao menos naquele salão muito frequentado na Avenida Pinheiro Machado nº 768, sabia-se que andiroba é uma planta medicinal da espécie Carapa guaianensis, muito utilizada para auxiliar no tratamento de reumatismo ou dor muscular, devido às suas propriedades medicinais anti-inflamatórias e antirreumáticas.

Outro assunto, né? Inegável, porém, reconhecer essa tradição do estudo e do uso de produtos naturais na Capital rondoniense. 

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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MULHER SERINGUEIRA - Lodi, mestre das letras, lança “Varadouro”, contando a história de Maria da Onça

MULHER SERINGUEIRA

Montezuma Cruz*

Foto - Edson Lodi e Maria Gomes

Ao longo de duas décadas o escritor, jornalista e poeta Edson Lodi Campos Soares vem resgatando notáveis personagens da Amazônia Brasileira, cuja vida já não passa mais despercebida. Ele agora lança “Varadouro”, seu mais recente livro, contando a história de Maria Gomes da Silva, conhecida como Maria da Onça. Nascida em Lábrea (AM), a 373 quilômetros da Capital de Rondônia, e a 852 Km de Manaus, dona Maria seria mais uma anônima entre os seringueiros da região, não fosse o escritor tê-la conhecido. Ela se mudou para o Acre.

“Varadouro”, que saiu pela Capella Editorial, retrata a dura lida de uma dessas milhares de mulheres seringueiras. “Ela faz parte de histórias subestimadas, difusas como a sombra das porongas dos maridos e companheiros, mas que carregam prodigiosos testemunhos da vida na floresta”, relata Lodi.

foto - Livro Varadouro

O livro apresenta vegetais e animais da floresta, com seus nomes, histórias e mistérios.

Lodi viagem todo ano para lugares distantes mais de 2 mil Km de Brasília: Cruzeiro do Sul (AC), Rio Branco (AC), Manaus (AM), Porto Velho e Tefé (AM). Em alguns deles despertou-lhe o desejo de conhecer e ouvir relatos de pessoas que nasceram, ainda trabalham, e nunca saíram dali.

foto - Maria Gomes


Dona Maria é daquelas que zela pelo acampamento, organiza ferramentas, caça, pesca, coleta, e até enfrenta onças para proteger corajosamente suas famílias e locações.

Convivendo com a rotina dessa personagem, o autor expôs o seu sentimento de admiração e compreensão do quanto ela simboliza em seu trabalho árduo, porém, exercido com vontade e persistência.

Antigos seringais e alguns remanescentes, sempre foram palco da mulher. Por tradição, mulheres em seringais amazônicos se destacaram em seu protagonismo, esforçando-se na extração diária do látex nas árvores e na paciência para conseguir a organização comunitária que lhes asseguram os mínimos direitos.

O trabalho de resgate de personagens que Lodi desenvolve sempre presente em cantões amazônicos já é conhecido por um público que aprecia histórias de pessoas simples espalhadas por Rondônia, Acre e sudoeste amazonense.

Zeloso com o patrimônio cultural rondoniense, por exemplo, no livro “Cantiga de viola” Lodi transporta o leitor para a cidade de Porto Velho entre o final da década de 1960 e início de 1970, mostrando a valorização do cancioneiro popular por um homem que também doutrinou pela música: o mestre José Gabriel da Costa, fundador do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.

Anteriormente, seu livro “Eu Vi a Lua – Histórias de Mulheres Ayahuasqueiras” (Editora Pedra Nova) apresentou “a beleza do semblante feminino permeado de lutas e vitórias, através das histórias de 12 mulheres que encontram no Vegetal (ou também Chá Hoasca, na União do Vegetal, e Daime, nas linhas religiosas do Alto Santo e da Casa de Jesus – Fonte de Luz) inspiração de vida e caminho espiritual.”

Agora, ele traz o viver amazônico de uma mulher irmanada a outras habitantes de seringais na região. Todas elas não se limitaram aos serviços caseiros e aos cuidados com a família; foram mães de família honradas, sustentaram a família, e ofereceram o seu grande quinhão à consolidação dos bons negócios de seringalistas.

 

📚 “Varadouro”

 Lançamento, dia 1° de julho, a partir das 19h30, na sede do Memorial José Gabriel da Costa, na Rua Abunã nº 1419, Bairro Olaria, em Porto Velho.



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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.


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