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A maneira como os anúncios atraíam a freguesia, um século atrás - por Montezuma Cruz

MONTEZUMA CRUZ*

Passados 105 anos, vamos conhecer um pouco da publicidade da década de 1920 por aqui? Os anúncios eram detalhados, algo que veio se repetindo nas décadas seguintes com gêneros alimentícios, remédios, indústria e outros setores. Os jornais eram compostos ainda em tipografias. Recomendo aos mais jovens pesquisar como funcionavam as gráficas.

Grandes fabricantes e distribuidores usavam embarcações que desciam e subiam o Rio Madeira, chegavam a Porto Velho (ainda Estado do Amazonas), e alcançavam cidades bolivianas navegando pelos rios Beni e Mamoré.

Anúncios naquela década usavam textos longos com apelo máximo para convencer o consumidor. Não havia fotos, apenas imagens simples ou gravuras sobre fotografias, com apelos à modernidade e aos valores sociais e higiênicos da época.

A moeda da época era réis. Os textos eram geralmente longos, não apenas vendendo o produto, mas contribuindo para educar as pessoas via conhecimentos pedagógicos.

No jornal Alto Madeira, conforme a grafia da época:

A Formosa Syria- a casa das novidades - acaba de receber um belíssimo stock de calçados para senhoras, bem como outras novidades para ambos os sexos.


The Amazon River Steam Navigation Company (1911) Limited – vapores com regalias de paquetes – Linha do Pará – Sahidas bi-mensaes, com escalas.

Alfaiataria Madeirense
de Antônio Lima

Neste bem montado estabelecimento executam-se com a máxima perfeição e elegância, todos os trabalhos concernentes á arte. Dispondo para isso, de contramestre competentíssimo e officiaes habilitados

Especialista em obras de cinta.
Preços Módicos
Rua Rio Branco - Porto Velho

Companhia Fluvial – Madeira-Mamoré

Commandante Sr. Raul Guimarães.

“Francisco Salles” – Commandante Sr. Julião Rocha. 
N.B - Os fretes sobre borracha e outros produtos de exportação, vencidos em Porto Velho ou Santo Antônio, destinados aos vapores da Companhia Fluvial, poderão ser pagos em Manaos ou Pará.


Egualmente os fretes das mercadorias procedentes de Manaos ou Pará, destinadas a Riberalta e Trinidad, por intermédio dos agentes da Companhia Fluvial, podem ser pagos no destino contra a entrega das mercadorias, quer os da Companhia Fluvial, quer os da Madeira-Mamoré Railway Company.

Para quaisquer informações, os interessados poderão entender-se em Porto Velho com o agente, Sr. G.A. MILNE JONES

Hotel Brazil

Porto Velho – Restaurante e Botequim
Preços: primeira classe, Rs 12$000 por dia
Segunda classe:Rs. 5$000 por dia

Almoços – Lunchs e Jantares – Bebidas geladas a toda hora

Único estabelecimento que prepara banquetes a preços módicos – Cozinha variada e serviço de primeira ordem. Respeito e moralidade – Acommodações hygienicas e contáveis – Casa telada, completamente livre mosquitos

G. F. Younge - proprietario

Marchantaria do Povo
de Francisco da Silva Lima

No Mercado Público - Porto Velho
Carne verde de primeira qualidade, peso garantido

George Resky
Relojoeiro diplomado

Recommenda-se ao respeitável público de Porto Velho e do interior.

Conserta toda classe de relógios. Trabalho garantido.
Preços sem concorrência
Rua José de Alencar, em frente ao Bazar Paraense

Dr. Mendonça Lima
Médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro

Consutorio médico na Pharmacia Madeira
das 8 ás 11 horas da manhã e das 5 ás 6 horas da tarde

Attende a chamados, por escripto, a qualquer hora.

Cigarros Theresita

Fábrica Pará-Amazonas – A maior da Amazônia
A que mais produz – A que mais vende - a prova de que os cigarros Theresita são os melhores
Rua Conselheiro João Alfredo 14 e 16 Caixa Postal 360 Telgr: Serfaty
Agente geral para o Rio Madeira e Bolívia - M. H SERFATY & IRMÃOS

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Texto anterior -  A terra treme em Porto Velho
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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

A terra treme em Porto Velho

MONTEZUMA CRUZ*

Originalmente no Cool do Mundo, de Vilhena

 

Alto Madeira capa da edição de 19 de janeiro de 2022/Reprodução

Já sob a direção do médico baiano Joaquim Augusto Tanajura, em 19 de janeiro de 1922, ano do centenário da Independência do Brasil, o jornal Alto Madeira exibia na 1ª página da edição nº 487, "telegrammas" de "Manaos", Capital do Estado do Amazonas; navios vapores que zarpavam; e um tremor de terras percebido em Porto Velho.

A gerência administrativa era de Cincinato Elias Ferreira. O jornal ainda não publicava clichês, apenas noticiou o fato. Clichê era uma placa de metal com zinco, ou, depois, de borracha ou fotopolímero; nelas saíam imagens em relevo.

Na íntegra e na linguagem em 1922:

"No dia 16 do corrente, as 11 1[2 horas da noite pouco mais ou menos, deu-se nesta cidade um tremor de terra. As casas trepidaram fortemente, sahindo alguns de seus habitantes para a rua.

"Os móveis, perdendo o estão de repouso, oscilaram sobre o seu ponto de apoio. No mez passado o mesmo phenomeno foi notado nesta cidade, as 11 horas do dia 18, sendo mais rápido do que o último."

Observações deste repórter: naquela época, estudos sobre ocorrências de tremores deviam ser raridade. Atualmente, sismógrafos e sismômetros instalados da Universidade de Brasília, revelam a localização e a intensidade (medida na escala Richter) desses fenômenos. Aqui na Amazônia Ocidental Brasileira mesmo, fortes tremores no Peru são sentidos em Cruzeiro do Sul (AC), e até mesmo em Rio Branco (AC) e Porto Velho.

Sismógrafo fabricado por chineses localiza epicentro de tremores/ Foto Ibrachina

Além do tremor ocorrido em alguma placa tectônica sul-americana vizinha ao Amazonas e 21 anos depois Território Federal do Guaporé, algo mais atraía o leitor do Alto Madeira naquela 1ª página: o folhetim novelesco "As 13 noivas", escrito por E. Lloyd Sheldon.

No capítulo VIII ele relata que o tenente Morgan penetra no calabouço do navio, após a retirada do seu pessoal e o lançamento de uma poderosa carga de dynamite. Mantenho a grafia da época.

O texto emocionado:

"(...) Então Morgan, disfarçando-se com a roupa de uma das moças, sahe e vai ao encontro dos miseráveis. Chegando junto d'eles apodera-se do archote e, servindo-se dele como de uma massa d'armas, trava lucta e abre caminho até o mar.

"Ahí, atira-se ás águas e nada em direção ao submarino. Graças a escuridão os bandidos perdem-o de vista e julgam-o morto. Elle aborda o submarino, domina sem grande esforço os poucos miseráveis que ali estão de guarda, e penetrando no compartimento de telegrafia Marconi da primorosa embarcação, começa a telegraphar para o Ministro da Marinha pedindo socorro.

"Infelizmente os que estavam de guarda no barco fugiram e foram dar alarma a seus companheiros na ilha. Os bandidos não tardaram a vir, sedentos de vingança. E um d'eles penetra na câmara do submarino quando Morgan ainda está telegrafando (...)"

E assim, numa cidade onde a pequena população não dispunha de outro meio de comunicação, senão o jornal e o telégrafo instalado em 1909. No mais, as pessoas liam textos redigidos por Joaquim Tanajura e colaboradores, ou captados pelo fio telegráfico, do noticiário nacional e internacional de agências.

O rádio só seria inaugurado no Brasil em 7 de setembro daquele ano de 1922, durante as celebrações do centenário da Independência, quando a transmissão pioneira feita no Rio de Janeiro divulgou o discurso do presidente Epitácio Pessoa.

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

Do incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT, seringal nativo rondoniense "ressuscita" sem apoio

Do incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT, seringal nativo rondoniense"ressuscita" sem apoio

MONTEZUMA CRUZ*

Látex extraído em seringual nativo da comunidade Canindé, na Rexex Rio Cautário (Foto Frank Néry)

Porto Velho ainda pertencia ao Amazonas no final de fevereiro de 1943, quando o diretor do Banco de Crédito da Amazônia), Ruy Medeiros, visitava a Associação Comercial de Porto Velho, lotada de seringalistas. Ali, ele expôs o plano de ampliação da extração do látex. E assim, o chamado Banco da Borracha realizou várias operações de crédito. Atualmente, o Governo de Rondônia dá especial atenção às Câmaras de Carne, Café, Leite, Soja, mas se omite em relação ao látex que protagonizou um ciclo econômico no extinto Território Federal do Guaporé.

Enquanto o governo rondoniense dá vivas ao agro, que aqui supera o valor básico de produção no País, a borracha corre ao largo dos "primos pobres", desconhecendo-se os seus números de produção e venda.

Em alguns velhos seringais da Amazônia Ocidental, as famílias que trabalham no setor não dispõem de utensílios para a coleta, barracões e até energia elétrica.

Em 1943 o jornal Alto Madeira noticiava a visita do diretor do Banco de Crédito da Amazônia (reprodução

Nos anos 1940, o entusiasmo era grande. Afinal, vivia-se o Ciclo da Borracha nos confins amazonenses, acreanos e mato-grossenses. Segundo o jornal Alto Madeira, então dirigido por Inácio de Castro em sua edição de 26/2/1943, a mobilização econômica da borracha "é um dos grandes acordos assinados em Washington, DC (EUA), entre os governos brasileiro e norte-americano.

Atualmente, pouco se sabe do setor. Nem a vida dos seringueiros remanescentes, nem a comercialização da borracha aparecem nos observatórios econômicos criados pelo Governo de Rondônia. Mas o setor existe e trabalha quase silenciosamente no interior de Unidades de Conservação, onde o subsídio do quilo do látex de seringueira nativa é pago a R$ 2,30 pelo governo estadual, enquanto a borracha de seringais de cultivo recebe R$ 1,30.

Em algumas dessas áreas trabalha a empresa franco-brasileira VERT Veja pagando R$ 15 o quilo da borracha bruta, com bonificação que alcança R$ 17,30 e R$ 20,30 pagaria, se o subsídio fosse pago em dia.

A empresa atua também no Acre, adquirindo cada vez látex de seringais nativos, porque a qualidade dele apresenta densidade 30% mais forte do que a de seringais de cultivo e garantem melhores produtos. A VERT Veja trabalha desde 2004 com objetivo de produzir tênis conectando projetos sociais, justiça econômica e materiais agroecológicos.

Este repórter constatou em Novo Hamburgo (RS) neste novembro de 2025 o resultado das compras de látex pela VERT Veja em Rondônia. Com ele, a empresa francesa-brasileira se dedica atualmente à fabricação de calçados da linha branca, destacando-se o conhecido sapatênis.

Em 2024, o vice-governador de Rondônia, Sérgio Gonçalves, em reunião na Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), da qual era titular, prometeu à Organização dos Seringueiros de Rondônia, recursos para a aquisição de equipamentos que seriam distribuídos a comunidades de seringais nativos e hoje reutilizados. Não cumpriu o compromisso. 

Rondônia possui 30 terras indígenas, 25 reservas extrativistas. No conjunto, 63% são áreas protegidas. A Resex do Rio Cautário está dividida em sete comunidades: Águas Claras, Canindé, Ilha/Jatobá, Lago Verde, Laranjal, Ouro Fino e Vitória Régia. Entre 30% e 33% são áreas de uso sustentável, terras indígenas e unidades de conservação. Há uma população de 15 mil pessoas, cuja tradição é pautada no extrativismo.

A importância da retomada dos seringais nativos é tema da professora Rosalina dos Santos Dias, descendente de extrativistas, que estudou o setor e analisou economicamente sua viabilidade, com o projeto de manejo florestal da Resex Rio Cautário. 

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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