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MULHER SERINGUEIRA - Lodi, mestre das letras, lança “Varadouro”, contando a história de Maria da Onça

MULHER SERINGUEIRA

Montezuma Cruz*

Foto - Edson Lodi e Maria Gomes

Ao longo de duas décadas o escritor, jornalista e poeta Edson Lodi Campos Soares vem resgatando notáveis personagens da Amazônia Brasileira, cuja vida já não passa mais despercebida. Ele agora lança “Varadouro”, seu mais recente livro, contando a história de Maria Gomes da Silva, conhecida como Maria da Onça. Nascida em Lábrea (AM), a 373 quilômetros da Capital de Rondônia, e a 852 Km de Manaus, dona Maria seria mais uma anônima entre os seringueiros da região, não fosse o escritor tê-la conhecido. Ela se mudou para o Acre.

“Varadouro”, que saiu pela Capella Editorial, retrata a dura lida de uma dessas milhares de mulheres seringueiras. “Ela faz parte de histórias subestimadas, difusas como a sombra das porongas dos maridos e companheiros, mas que carregam prodigiosos testemunhos da vida na floresta”, relata Lodi.

foto - Livro Varadouro

O livro apresenta vegetais e animais da floresta, com seus nomes, histórias e mistérios.

Lodi viagem todo ano para lugares distantes mais de 2 mil Km de Brasília: Cruzeiro do Sul (AC), Rio Branco (AC), Manaus (AM), Porto Velho e Tefé (AM). Em alguns deles despertou-lhe o desejo de conhecer e ouvir relatos de pessoas que nasceram, ainda trabalham, e nunca saíram dali.

foto - Maria Gomes


Dona Maria é daquelas que zela pelo acampamento, organiza ferramentas, caça, pesca, coleta, e até enfrenta onças para proteger corajosamente suas famílias e locações.

Convivendo com a rotina dessa personagem, o autor expôs o seu sentimento de admiração e compreensão do quanto ela simboliza em seu trabalho árduo, porém, exercido com vontade e persistência.

Antigos seringais e alguns remanescentes, sempre foram palco da mulher. Por tradição, mulheres em seringais amazônicos se destacaram em seu protagonismo, esforçando-se na extração diária do látex nas árvores e na paciência para conseguir a organização comunitária que lhes asseguram os mínimos direitos.

O trabalho de resgate de personagens que Lodi desenvolve sempre presente em cantões amazônicos já é conhecido por um público que aprecia histórias de pessoas simples espalhadas por Rondônia, Acre e sudoeste amazonense.

Zeloso com o patrimônio cultural rondoniense, por exemplo, no livro “Cantiga de viola” Lodi transporta o leitor para a cidade de Porto Velho entre o final da década de 1960 e início de 1970, mostrando a valorização do cancioneiro popular por um homem que também doutrinou pela música: o mestre José Gabriel da Costa, fundador do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.

Anteriormente, seu livro “Eu Vi a Lua – Histórias de Mulheres Ayahuasqueiras” (Editora Pedra Nova) apresentou “a beleza do semblante feminino permeado de lutas e vitórias, através das histórias de 12 mulheres que encontram no Vegetal (ou também Chá Hoasca, na União do Vegetal, e Daime, nas linhas religiosas do Alto Santo e da Casa de Jesus – Fonte de Luz) inspiração de vida e caminho espiritual.”

Agora, ele traz o viver amazônico de uma mulher irmanada a outras habitantes de seringais na região. Todas elas não se limitaram aos serviços caseiros e aos cuidados com a família; foram mães de família honradas, sustentaram a família, e ofereceram o seu grande quinhão à consolidação dos bons negócios de seringalistas.

 

📚 “Varadouro”

 Lançamento, dia 1° de julho, a partir das 19h30, na sede do Memorial José Gabriel da Costa, na Rua Abunã nº 1419, Bairro Olaria, em Porto Velho.



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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.


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O rio comanda a vida, o motor de rabeta salva o canoeiro

O rio comanda a vida, o motor de rabeta salva o canoeiro

MONTEZUMA CRUZ*

No rio seco, o motor de rabeta vence longas distâncias tirando moradores do isolamento (Foto A Gazeta do Acre)

Fiz três viagens pelo Rio Juruá de duas décadas para cá. Vi o esforço dos pilotos de canoas e barcos para desencalhá-los entre Marechal Thaumaturgo e o Lago Ceará, na Reserva Extrativista do Alto Rio Juruá, no Acre. Um dos 20 maiores rios do mundo, ele tem seu período de cheia que desabriga pessoas, mas seca todo ano. São situações que expõem a verdadeira face da Amazônia onde as águas carregam sedimentos e galhos de árvores. Há trechos assoreados. 

Canoa de Maraçamduba, iguais a esta, resistem bem no transporte diário Juruá e afluentes (foto Montezuma Cruz)

A viagem de 2009 foi especial: pelo menos dez vezes a lancha voadeira parou. Seus condutores se revezaram numa espécie de via-sacra aquática sem altar, exigindo muita paciência para chegar ao Lago do Ceará, alcançado pelos rios Amônia e Juruá. Na seca, só canoas com motores de rabeta viajam normalmente. Seus pilotos sabem que não serão prejudicados. Tanto vencem trechos com menos de meio metro d'água, quanto os "encachoeirados", próximos a pedras e onde a profundidade alcança dois metros e a correnteza pode provocar acidentes.

Dias antes, eu havia visitado um fabricante de canoas na cidade de Rodrigues Alves, marceneiro de mão cheia, especializado em produzir a embarcação movida a motores de popa e de rabeta. Ele utilizava a madeira maçaranduba (espécie Manicara), muito resistente.

É de 60 litros o consumo de óleo combustível numa lancha na viagem de ida e volta entre o porto de Thaumaturgo e a Resex do Alto Rio Juruá. Nossa lancha levou um tambor reserva de 20 litros. A área portuária da cidade possui três pequenos embarcadouros, onde se adquire óleo.

Com as curvas povoadas de praias, tem-se a impressão que os 40 quilômetros do percurso se transformam em quase cem. O vaivém de canoas levando bebês, crianças e adultos se incorpora à paisagem. Entre eles são intercalados colchões, malas, baldes, gêneros alimentícios e o que mais for possível transportar sob o mormaço ou debaixo de chuva. Os mais cuidadosos não ligam o motor sem levar uma lona para cobrir as "traias".

No trecho entre a sede do município e a Resex são bem visíveis nos barrancos os buracos feitos por caranguejos. Parece um tabuleiro. Bois e vacas descem de uma altura de dez a 30 metros até as praias, ali permanecendo até o entardecer. Alimentam-se no viçoso capinzal. Pena que perdi meu arquivo do Juruá, com fotos desses animais em plena praia.

Barcos de prefeituras servem às famílias sem recursos, cujo caminho é o leito do rio (Foto prefeitura de Thaumaturgo)

Perto do rebanho veem-se árvores imbaúbas, uma ao lado da outra. Elas nasceram e cresceram assim. Na beira da água há marrecos, urubus e garças brancas. No alto das árvores, ninhos de japiim, um pássaro conhecido pela imitação do som de outros, entre os quais, periquito, arara, tucano e capitão-do-mato.

A voadeira não vence duas  mini-cachoeiras em  trechos de correnteza. No período de seca, os pilotos têm que descer e puxá-la por cordas. Foi o que ocorreu nesta viagem, com os jovens Marlon da Silva e Átilon Pinheiro. A lancha deixou de navegar e precisou ser arrastada. "No inverno é bem mais fácil", garante Pinheiro.

A cada curva de rio, a cada quilômetro de praia, galhadas e troncos surgem à frente. Estão ali inertes, há muitos anos, atrapalhando a navegação de canoas, barcos, lanchas voadeiras e dos batelões. A cena é semelhante ao "cemitério" de troncos submersos em lagos de hidrelétricas. 

Galhos, areia e pedras danificam as hélices das embarcações. Potência não conta nessas viagens. Só os motores de rabeta dois tempos ou quatro tempos obtêm êxito.

Se alguém conseguisse retirar das águas galhos e árvores inteiras liberados do alto dos barrancos, teria um estoque de lenha suficiente para alguns anos. Ninguém, nem o poder público se interessa por essa lenha. A lenha levada pela correnteza se espalha por quilômetros nos leitos obstruídos dos rios Amônia e Juruá.

E não é que, à noite, o piloto Marlon da Silva se revela um pé-de-valsa - ou pé-de-xote, dançando à vontade com todas as meninas e mulheres do lugar? Contou-me que elas eram "amigas, primas ou sobrinhas". O baile é improvisado numa sala na sede da Resex e num dos quartos da casa de madeira.

Amanhece o domingo e o som de um CD repete bregas dos anos 1970 e 80. São 6h30: o sol penetra na neblina que ainda cobre lavouras de fumo e feijão, pomares, escolinha, casas, e os abrigos de bois, cabritos, porcos e ovelhas. Alguns dançarinos reclamam do fim da festa, outros reclamam e se deitam no assoalho do casarão de dona Aida Guimarães, o ponto de encontro das famílias deste canto da Resex.

Visitantes e moradores caminham até a beira do rio para a despedida. Já sabem que lanchas voadeiras não terão vez, mesmo com potentes motores-de-popa. Para vencer as distâncias, devagar e sempre, vale muito mais a pequena hélice da rabetinha, girando feito cata-vento.

– Aqui é assim mesmo, toda vez que seca. A gente se acostuma a fazer o povo descer, enquanto a gente puxa ou empurra, principalmente lanchas – comenta o sorridente Marlon, sem demonstrar o mínimo estresse com a profissão. Se ele não saiu do Acre, deve estar lá até hoje, socorrendo seus passageiros.

Texto anterior - Jagunços de colonizadora jogaram colono baleado ao formigueiro

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

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Jagunços de colonizadora jogaram colono baleado ao formigueiro

Jagunços de colonizadora jogaram colono baleado ao formigueiro

MONTEZUMA CRUZ* 

"Que horror"  – exclamávamos na Redação de A Tribuna, quando soubemos do ocorrido com o gaúcho João Cecílio Perez em 1979. Jagunços a serviço da Colonizadora Calama S/A o balearam, jogando-o sobre um formigueiro. A expulsão de posseiros em Rondônia também era feita com esses métodos cruéis. João Cecílio havia inteirado 46 anos quando saiu do Rio Grande do Sul, passou por Chopinzinho (PR) e Jardim (MS), até chegar a Ji-Paraná, onde sonhava ser dono de um lote. Fui conhecê-lo num quarto do antigo Hospital São José, em Porto Velho, acompanhado pelo colega jornalista Jorcêne Martínez.

João Cecilio Perez, baleado no lote, perdia uma das vistas e ficou surdo de um ouvido (Foto Jorcêne Martinez - in memoriam).


João lavava verduras para o almoço, quando recebeu o primeiro tiro. Atingido no peito, não tombou, sentia o ardor. Pensou sair correndo e fugir – contava.

A história se passou no Lote Bela Vista, comercializado pela Colonizadora Calama, em Ji-Paraná, a 367 quilômetros de Porto Velho. A Calama foi uma das empresas denunciadas por grilagem na CPI da Terra da Câmara dos Deputados, em 1977.

João Cecílio passava a morar com o sogro, desde que fora abandonado pela mulher, havia 20 anos. Durante seis anos, derrubou mato, plantou arroz, milho, café e contraiu malária. Passou fome.

Comprava um lote da Colonizadora Calama, então, a maior empresa de terras de Ji-Paraná e ali iniciava suas atividades quando a cidade ainda se denominava Vila Rondônia. A empresa pertencia a João dos Santos Filho, vindo de Londrina (PR) nos anos 1970 e assassinado em 1981, por um dos seus próprios jagunços, durante a festa de São João.

No terreiro da casa do lote, três homens apontaram armas para João Cecílio. Numa embalada, saiu de casa e passou por eles.

Queria alcançar o córrego próximo. Mais tiros. Dois acertaram a barriga e o peito, o terceiro atingiu-lhe a coxa. Aí ele caiu. O corpo ficou amortecido. “O que me tocaiou se aproximou e eu o reconheci. Era um tal de Chico, empregado da Calama. Mas por que querem me matar, se eu nunca fiz mal a vocês, nem lhes conheço direito?” – relatava no quarto do hospital.

– E se aparecesse alguma onça ou cateto? Os bichos são bravos – ainda raciocinava. E passou o resto do dia e a noite jogado no chão. Lá pelas oito horas da noite, os homens voltavam ao local, levando um rapaz. João Cecílio deitou-se do mesmo jeito em que se encontrava anteriormente, imóvel, e um deles jogou a luz da lanterna sobre o seu corpo. Pisaram-lhe novamente a barriga, sacudiram o corpo. João Cecílio arrepiou-se ao ouvir frases: “Esse aí tá morto mesmo”, “Vamos enterrar ele”, “Deixa do jeito que tá, os bichos acabam com ele”.

Formigas passeavam sobre o corpo do colono. Os homens foram embora, a madrugada passou, o rol raiou, e ele exclamou: “Estou salvo, meu Deus!”.

Submetido a quatro cirurgias pelo médico Ovídio Tucunduva Neto, finalmente, nosso personagem ficou fora de perigo. Quer dizer, apenas não morreu. Mas perdeu o baço, ficou surdo de um ouvido, com paralisia em uma face e, dadas a infecções do ferimento na cabeça – de onde foram retirados centenas de insetos – perdeu uma vista.


Texto anterior - Cinema para garimpeiros fazia sucesso com terror brasileiro e lutas marciais

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NOTA

Numa viagem recente a Ji-Paraná fui informado que João Cecílio viveu longos anos num sítio, mas nunca mais fora visto por jornalistas e radialistas antigos, entre os quais, nosso conhecido Valdemar Camata.

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).


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As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

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Cinema para garimpeiros fazia sucesso com terror brasileiro e lutas marciais

Cinema para garimpeiros fazia sucesso com terror brasileiro e lutas marciais

MONTEZUMA CRUZ*

Em Periquitos, o primeiro garimpo onde trabalhou, Nilsinho viu muito ouro em movimento. Falo de Eunilson Ribeiro, um dos personagens do meu livro Território dourado, que levou o cinema aos garimpos do Rio Madeira durante os anos 1980.  “Eu e muitos prepostos de grupos comprávamos na fonte; vi muitas vezes aviões fretados pelo Banco Central pousarem na pista do Aeroporto Belmont com milhões de cruzeiros acondicionadas em caixas de papelão”, ele conta. Essa situação antecedeu ao período em que decidiu enveredar pelo cinema 16 milímetros.

Bruce Lee um dos maiores vultos das artes marciais do mundo, foi também herói para os garimpeiros reunidos em Embaúba, Rio Madeira (foto divulgação).

Nilsinho foi ligado à empresa Pini, Andrade & Gonçalves. Este último era diretor do Banco Mercantil de São Paulo S/A e casado com a filha do banqueiro Gastão Vidigal, simplesmente o dono. A agência em Porto Velho funcionava na Avenida Carlos Gomes.

“Imagine você, eu trabalhando para o genro do bilionário...até que o gerente da agência soube disso no ato dele abonar a minha assinatura. Aí, passou a me tratar como um rei, e sempre que eu voltava ali tinha tudo à disposição, afinal, em minha conta entrava toda semana o equivalente a dez quilos de ouro” – recorda.

Nilsinho Ribeiro (e) conta sua história de comprador de ouro, operador de centro telefônico, vendedor de bolo e gerente de cinema (foto Raíssa Dourado).


Nilsinho emitia muitos cheques, e mesmo quando não tinha fundos suficientes, o banco pagava e o comunicava por telefone, acertando tudo nos depósitos seguintes.

Um longo trecho da Rua Campos Sales e outro trecho da Avenida 7 de Setembro concentravam dezenas de lojas de compra e venda de ouro, o que resultava num movimento incomum na Capital de Rondônia. “A mais famosa pertencia ao comerciante Edgar Queiroz”, opina Nilsinho.

“Eu fiz de tudo um pouco no garimpo e ele marcou a minha vida”, ele diz. Ali mesmo no Embaúba foi sócio-proprietário da empresa Dago e Nilson, um posto de gasolina e óleo diesel. Dormiam nos quartos de madeira e atendiam até de madrugada. No balcão vendiam bolos fabricados no Bar do Canto e ofereciam um serviço especial de comunicação por radiomamador modelo Yaesu que transmitia mensagens para outro aparelho instalado numa sala em Porto Velho.

Nesse lugar uma pessoa recebia o chamado do garimpo e o acoplado ao telefone que completava a chamada interurbana. “Outro sucesso, pois os garimpeiros localizavam parentes, amigos, esposas, namoradas, e o mundo ficava bem perto deles.”

Algumas histórias desse mundão amazônico ocidental antes da internet foram contadas por Nilsinho no filme documentário "Vozes da Memória", dirigido por Raissa Dourado, filha dele. (Há indicação com link, no final deste texto).

Em sociedade com Dagoberto Freitas – hoje nos Estados Unidos – e Edmilson Lacerda, o "Baleia", ele fundou o Cine Embaúba, o glamour da sétima arte para os garimpeiros nos anos 1980. Voltava de uma viagem ao Rio de Janeiro onde se inspirava no slogan: “Cinema também é cultura”, do empresário de cinemas Luiz Severiano Ribeiro. Mandou colocá-lo numa placa, fazendo ver aos garimpeiros que eles faziam parte daquele bom momento.

O ingresso custava um grama de ouro e a bilheteria faturava o tufo em todas as sessões. Os filmes vinham enlatados da distribuidora de Manaus, em aviões teco-tecos, pousando numa pista precária do garimpo Embaúba. Com o amigo sócio Dagoberto Freitas, Nilsinho adquiriu um projetor 16 milímetros, de segunda mão. Dagoberto é filho do notável engenheiro José Otino de Freitas, o idealizador do projeto do Palácio Presidente Vargas, ex-sede do Governo de Rondônia e hoje Museu da Memória Rondoniense.

Ao relento, o cinema era cercado por lona, não tinha teto, e assentava-se em um terreno de ladeira onde a posição dos bancos facilitava a visão de cada pessoa. “Compramos duas cornetas e instalamos lá no alto de uma árvore samaúma, de onde a voz do locutor Boquileo irradiava por todo o garimpo anunciando não apenas o cartaz cinematográfico, mas avisos de utilidade pública, e tocava muita música que os garimpeiros dedicavam para os amigos ou para as mulheres que os visitavam”, ele conta.

Nilsinho menciona nostálgico o nome de sua mãe, dona Jandira Gomes, esposa de Eunilson Ribeiro (pai), falecida aos 90 anos. “A tela eu fiz emendando três lençóis brancos que furtei dela, e é lógico que minha mãe deu falta e me passou uma esculhambação.”

Na estreia passou o filme "O roubo das calcinhas", uma comédia pornochanchada brasileiro de 1975 dirigido por Sindoval Aguiar e Braz Chediak. Mas, segundo Nilsinho, os garimpeiros não gostavam muito desse estilo, preferiam mesmo as lutas de Bruce Lee que também passavam nos cinemas de Porto Velho, e adoravam o ator Zé do Caixão (José Mojica Marins).

Bruce Lee, nascido Lee Gunfam em 27 de novembro de 1940, foi um artista marcial, ator, diretor de cinema, roteirista e filósofo sino-americano amplamente reconhecido por ter popularizado as artes marciais no cinema ocidental durante a década de 1970. Verdadeira lenda do esporte e da cultura pop que morreu prematuramente em 20 de julho de 1973.

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, fez filmes os primeiros filmes de terror no Brasil, ainda na década de 1960; no garimpo tinha mais aceitação que pornochanchadas (foto divulgação).

José Mojica Marins, diretor, ator, roteirista, o conhecido “Zé do Caixão', teve tanto público quanto o comediante Mazzaropi. Personagem emblemático, ele é considerado pela crítica um dos precursores do gênero gore e do cinema de terror no Brasil.

“Foi sucesso total a exibição daquele filme chamado "À meia-noite levarei sua alma" e sua sequência: "Esta noite encarnarei no teu cadáver." Os garimpeiros se banhavam, vestiam suas melhores roupas, e iam para o cinema; o vaivém na corrutela animava o comércio do Embaúba, formado por pequenos bolichos de utensílios de alumínio e plástico, açougues, restaurantes e farmácias, a exemplo de outros ao longo do Rio Madeira.

A história desse cinema teve outras mãos em originalidade, mesmo que tenham sido arregimentadas a fórceps por Nilsinho, ao surrupiar os lençóis do guarda-roupa da própria mãe. Essa ansiedade por ganhar algum dinheiro levando a diversão ao garimpo resultou em numeroso público que, na avaliação dele, comparava-se ao das sessões da tarde e da noite nos cinemas de Porto Velho.

Livro deste autor, relatando a política mineral em Rondônia e ascensão e a queda da zona boêmia em Porto Velho.

Dona Jandira também criou Cláudia e Janari. Ela nasceu no seringal Canaã Central, hoje município de Ariquemes, e ali viveu décadas na terra herdada dos pais e que um dia foram arrendadas por um senador do Estado do Amazonas. Com isso, dona Jandira estudou em Manaus e teve esse político como padrinho.

“Minha mãe viajava de lá para cá pelo Rio Madeira, entrando pelo Rio Jamari, e para chegar ao Canaã trocava de barco perto da Cachoeira de Samuel, onde foi construída a primeira usina hidrelétrica do velho território federal”, lembra Nilsinho.

Na convivência com indígenas, dona Jandira aprendeu seus cânticos. A aventura cinematográfica dele no Embaúba.

Tudo durou enquanto pipocavam tiros de revólver e metralhadora na floresta numa disputa ferrenha entre grandes grupos e os verdadeiros donos do bamburro dourado. Grupos poderosos, apoiados pela força policial rondoniense, fizeram vários ataques às corrutelas a título de prender traficantes de drogas, assassinos, ou fugitivos da justiça de outros estados.

Findo esse período, Nilsinho se mudou para o garimpo do Teotônio, mais próximo de Porto Velho, imaginando repetir o sucesso do seu “cinema também, é cultura.” Montou o Cine Eldorado, mas se desiludiu, porque, ao contrário do distante Embaúba, os atrativos alcoólicos, alimentícios e as casas noturnas da Capital estavam a “um pulo” do Teotônio.

Toda noite eles se juntavam e iam para Porto Velho, onde encontravam restaurantes, cinema e mulheres à vontade. Pronto, ia embora o sonho empreendedor, da mesma maneira como outros sonhadores deixaram nas entranhas da memória seus pequenos comércios no Embaúba.

Antes de encerrar o ciclo do cinema, nosso personagem ainda viveu dias de euforia. Um delegado de polícia valia-se de suas relações com rufiões da prostituição para “importar” mulheres de Goiânia a peso de ouro, com estadia muito bem paga.

Antes de encerrar essa longa aventura ao longo do rio, numa noite Nilsinho e outros organizadores promoveram um show de strip-tease em clima de intenso empurra-empurra. Quando apagaram as luzes e o projetor iluminava as garotas no palco, eles se surpreenderam com os garimpeiros acendendo suas lanternas para não perder um só detalhe da dança.

“No dia seguinte, com as borocas cheias de dinheiro, a disputa entre eles foi grande: todos queriam escolher e sair com as mais bonitas, e todas elas eram bonitas”, acrescenta Nilsinho, um ser feliz com as lembranças de sua história – a história dos  garimpos do Madeira.

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Texto anterior - Vinte anos atrás, pesquisador do Museu Goeldi resgatava língua Tupi em aldeia de Rondônia

*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).


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As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

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Vinte anos atrás, pesquisador do Museu Goeldi resgatava língua Tupi em aldeia de Rondônia

Vinte anos atrás, pesquisador do Museu Goeldi resgatava  língua Tupi em aldeia de Rondônia

MONTEZUMA CRUZ*

 

Faz 20 anos que o linguista Nilson Gabas Júnior, do Museu Paraense Emílio Goeldi, iniciava em Rondônia seu projeto de resgate da língua tupi. Ele visitava o Povo Arara, em Ji-Paraná. Desde o velho Território Federal do Guaporé, Rondônia falou essa língua que por pouco não foi extinta. O tupi está entranhado no português de maneira irrevogável. O professor Nilson conseguia concluir sua missão em 2006, visitando os 130 indígenas (número estimado naquele período) Arara.

Professor pesquisador Nilson Gabas Júnior, do Museu Goeldi, esteve com indígenas Arara em Ji-Paraná


Por pouco essa língua não acabou, exatamente pela falta de apoio governamental e do êxito em missões das quais participam apenas altruístas iguais ao professor pesquisador Nilson Gabas Júnior. O ex-diretor do Museu Goeldi é formado em jornalismo pela PUC-Campinas, possui mestrado em linguística pela Unicamp, com ênfase em línguas indígenas amazônicas e doutorado, também em linguística pela Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA).

Há séculos, em Rondônia, a civilização indígena reinava no interior, cuja floresta tombou entre meados dos anos 1970 e por toda década de 1980, cedendo espaço a vilas e cidades que surgiram ao longo da BR-364 (ex-BR-29), BR-429, e circunvizinhanças.

Açaí, caju, jabuticaba, maracujá...

Muitos leitores conhecem alguns termos tupi. Meu amigo cuiabano, saudoso jornalista Jorge Bastos Moreno, por exemplo, assinava no jornal O Globo, a coluna “Nhenhenhén”. Tradução: ficar falando sem parar. Nhe’eng é falar.

Chorar as pitangas – pitanga é vermelho em tupi; então, a expressão significa chorar lágrimas de sangue.

Cair um toró – tororó é jorro dágua em tupi, daí a música popular “Eu fui no Itororó, beber água e não achei”.

Ir para a cucuia significa entrar em decadência, pois cucuia é decadência em tupi.

Velha coroca é velha resmungona – kuruk é resmungar em tupi.

Cutucar, palavra que vem Tupi, é verbo nos dicionários


Dos verbos que nós temos, grande parte é tupi: socar – soc é bater com mão fechada. Bater com a mão aberta é petec, daí vem peteca. Espetar é cutuc, daí cutucar; chamuscar é sapec, daí sapecar e sapeca.

Nomes de doenças, como catapora – marca de fogo, tatá em tupi é fogo.

O significado de grande parte dos nomes de lugares só se sabe com o tupi, a exemplo de bairros de São Paulo, Capital paulista: Pari é canal em que os índios pescavam, Mooca é casa de parentes, Ibirapuera é árvore antiga, Jabaquara é toca dos índios fugidos, Mococa é casa de bocós – bocó é tupi.

Em nossa fauna e flora, o tupi aparece massivamente: tatu, tamanduá, jacaré. Até nas artes ele é encontrado – vejam o famoso quadro de Tarsila do Amaral, o Abaporu, que quer dizer antropófago em tupi.

Somente as tribos indígenas sustentaram o tupi, desde os primórdios da civilização amazônica e de outras civilizações. Até o século 17, ele estava em todo o território nacional, mas o Marquês de Pombal o proibiu, em 1758.

O trabalho do professor Nilson inclui documentação do tupi em dicionário e videodocumentário. Anteriormente, outros pesquisadores do Museu Goeldi esforçaram-se para resgatá-lo.

O esforço de salvação desse idioma, sem dúvida o que há de mais brasileiro, constitui-se uma enorme conquista para Rondônia, Amazônia e o País. No início da década de 1980, quando a Funai e as polícias Civil, Militar e Federal tinham dificuldades para retirar cerca de 80 famílias de invasores de uma área do Posto Indígena de Igarapé Lourdes (habitado pelos Arara e Gavião), o então delegado-adjunto da Funai, Amauri Vieira, recorria a Brasília.


Jovens indígenas conhecem a língua Tupi pelos pais e, atualmente, por estudos universitários


Vieira denunciava aos seus superiores que a usurpação do território indígena fora comandada por políticos e comerciantes de Ji-Paraná.

Além do professor Nilson, outros notáveis pesquisadores se destacam no resgate linguístico, a exemplo do professor da USP, Eduardo Navarro, um dos responsáveis por conseguir fazer do tupi a língua indígena mais bem-documentada e preservada que temos.

Nossa língua original vem desde a chegada do navegador português Pedro Álvares Cabral à costa baiana. Foi a língua dos bandeirantes, de Tibiriçá e do cacique Araribóia – a língua da construção espiritual e política do Brasil.

Num trabalho inédito no Brasil, Navarro ensinou os índios Potiguar, da Paraíba, a falar a língua de seus antepassados. Ele formou professores indígenas, criou material didático para as crianças e resgatou obras escritas a partir do século 16 – incluindo-se aí o teatro, as poesias e a liturgia do Padre Anchieta.

Dos defensores e estudiosos dos Arara, Gavião, Karitiana, Namkikwara, Paiter Suruí, Uru-eu-au-au e Zoró, alinho os sertanistas: Apoena Meireles, Aimoré Cunha da Silva, Benamour Brandão Fontes, Amauri Vieira, Francisco de Assis Silva, José do Carmo Santana, o Zé Bel, Osman Brasil, e Osni Silveira.

Talvez os Arara e Gavião, tão vítimas do homem branco, não tivessem tempo de suplicar a salvação da sua língua. E não tiveram mesmo, porque migrantes brancos cercaram suas terras, o que lhes inquietava diariamente.

Já os Potiguar da Paraíba acalentaram o sonho de falar a língua de seus antepassados. O professor Navarro foi até lá, munido do aprendizado do tupi clássico, e o fez sozinho, com documentos do século 16 e 17, traduzidos e publicados.


Tronco Tupi entre os povos amazônicos 


O trabalho de difusão do tupi realizado por Navarro é feito em várias frentes. Ele criou a ONG Tupi Aqui, para ser um centro de referência e difusão da língua e da cultura indígenas; concluiu o “Dicionário da Língua Brasílica – O Tupi Antigo das Origens do Brasil”, prefaciado por Ariano Suassuna, com cerca de oito mil termos, editado pela Vozes.

A jornalista Paula Chagas, na época no extinto Jornal da Tarde, ouviu de Navarro que o tupi é importante para se entender a cultura brasileira. “O brasileiro já nasce falando tupi, mesmo sem saber. O português falado em Portugal diferencia-se do nosso principalmente por causa das expressões em tupi que incorporamos. Essa incorporação é tão profunda que nem nos damos conta dela. Mas é isso o que faz a nossa identidade nacional.

“Depois do português, o tupi é a segunda língua a nomear lugares no País. São milhares de nomes, que continuam aumentando. Além disso, a literatura brasileira não é só em português, é em tupi também. Um exemplo são as obras do padre Anchieta, que escreveu teatro, poesia lírica, músicas, catequese, tudo em tupi.”

“Gonçalves Dias quis recuperar isso com suas obras, como I Juca Pirama – que significa “o que vai ser morto” –, assim como José de Alencar que, ao escrever Ubirajara, Iracema e tantos outros livros, buscava encontrar o rosto do Brasil. A importância do tupi se faz notar em cada fala nossa”.

O Brasil tem dificuldades em lidar com línguas em extinção. Percebi essa situação no apelo que me fazia o padre Cassimiro Beksta, em Manaus, quando viajei para a divisa do Amazonas com o Acre e Rondônia, em 1981, a fim de conhecer os indígenas Kaxarari. “Você vai conhecer um tesouro da linguística.” Fora ele, o autor da única cartilha a respeito do modo de falar dessa gente.

No entanto, os Kaxarari falam uma língua da família Pano, semelhante ao idioma falado pelos Yaminawa, Kaxinawa, Yawanawa, Nukini, Katukina e Poyanawa, todos do Acre.

Eu era um dos editores do jornal Porantim. Padre Cassimiro orientou-me a desembarcar em Vista Alegre do Abunã e embarcar no lombo de um burro para chegar à terra Kaxarari, no Igarapé Azul. Fui, escrevi duas páginas a respeito deles, mas só vim a compreender melhor a diferença de troncos linguísticos quatro décadas depois.

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).


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