Últimas Notícias
Brasil
Mostrando postagens com marcador Colunistas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Colunistas. Mostrar todas as postagens

Histórias que a transparência não conta – nem faz questão

Histórias que a transparência não conta – nem faz questão


MONTEZUMA CRUZ*    
Com fotos dos blogs: Dinâmica Ambiental e Ana Campana

Cobre - Foto: Dinâmica Ambiental

É por demais conhecida a história mineral rondoniense, mas a sua parte oculta atual segue inalterada. Nunca interessou à Transparência Governamental mostrar resultados, nem ao Governo Estadual promover algum evento que demonstre tal riqueza.

Mesmo sendo o primeiro produtor nacional de minério de estanho (cassiterita) e possuindo minérios estratégicos nas entranhas de seu subsolo, o estado limita sua empresa estadual do setor a operar tão somente com calcário, cujas reservas foram avaliadas em 250 anos.

Criada no primeiro governo do coronel Jorge Teixeira de Oliveira, a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) poderia, em tese e direito, comercializar outros ativos do setor, bastando que a Assembleia Legislativa lhe corrigisse rotas e ampliasse poderes.

Apesar dos pesares e da forte concorrência do empresário César Cassol, a empresa vive comemorando recordes no calcário.

Durante todo o atual governo, porém, permaneceu tão apagada quanto lamparina sem querosene. E olhe que a velha Provincia Mineral, criada oficialmente no século passado, representa 85% dos recursos do estado.

Rondônia já produzia 2.218 toneladas de cassiterita em 1969, representando 91,5% da produção beneficiada nacional. No período da pandemia da covid-19 passava de 10 mil, superando em seguida o Amazonas.

foto - mineral

Do subsolo do Seringal Angustura, o saudoso Joaquim Pereira, saíram as primeiras cargas daquele minério preto e valioso, nos três primeiros anos da década de 1950. Já em 1972 foram retiradas 2.794 toneladas, e em 1973 no auge da extração do minério chegou-se a tirar até 7.300 t, quando a produção correspondia a 80% das lavras nacionais.  À frente, os igualmente saudosos mineradores Flodoaldo Pontes Pinto e Moacir Mota.

Tempos em que, segundo lembra a professora de História e Geografia, Ana Campana, de Vilhena, a “safra” mineral resultava do uso diário de picaretas, enxadas, pás, enxadecos, facões e bombas para retirar a água de dentro das catas. Máquinas gigantes vieram bem depois.

Em outubro de 1976, o então governador do território federal, Humberto Guedes, participava do 1º Congresso Brasileiro de Mineração, realizado pelo então atuante Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no 1º andar da Escola Carmela Dutra.

Incrivelmente, meio século depois Rondônia continua sendo metalmineral sem que os governos movam uma pá no sentido de atualizar suas jazidas, concessões e lavras exploradas. A onda exportadora de grãos e carne parece ter sufocado o antigo e tradicional ciclo econômico que, queiram ou escondam, faz parte da economia estadual.

Por força da Portaria nº 195, editada em 1970, a atividade mineral seria transferida para as mãos de poderosas empresas nacionais e estrangeiras, entre as quais a Brascan (Brasil-Canadá), Brumadinho, e ao grupo nacional Paranapanema (mais tarde vendido ao capital peruano). Garimpeiros expulsos de lavras em aluviões [detalhes no próximo capítulo] cederiam espaço ao moderno maquinário levados por essas empresas para o meio da floresta.

Abunã, Ariquemes, Caritianas, Igarapé Preto, Jacundá, Oriente Novo, Santa Bárbara, São Carlos, São Domingos, São Lourenço, Maria Conga, Massangana e Porto Velho são nomes das principais regiões com amostragens positivas descobertas entre o final dos anos 1960 e início de 1970.

Ocorrências minerais fizeram parte do reconhecimento geológico da Folha SC.20 Porto Velho, parte do Programa de Integração Nacional executado pelo Projeto Radambrasil conto no livro “Território dourado.”

Algumas indicavam imensuráveis jazidas minerais, cujas pesquisas indicaram resultados que, inevitavelmente, substituiriam a lavra manual. À época, o mapeamento geológico, com a interpretação preliminar das imagens de radar foram apresentados em mosaicos semi-controlados na escala de 1:250.000 e complementadas com imagens em infravermelho na escala de 1:130.000 e fotos multiespectrais na escala de 1:70.000.

Embora a descoberta dos depósitos de Rondônia tenha ocorrido no início dos anos 1950, a produção no território começou somente em 1959, quando foram obtidas 10 toneladas de concentrado, relata a pesquisadora Ananelia Marques Alves, do Instituto de Geociências do Departamento de Administração de Recursos Minerais da Universidade de Campinas (Unicamp), em tese de dissertação de mestrado apresentada em 1989

Em 2024, quando presidia a Comissão de Infraestrutura e Serviços, o senador Confúcio Moura (MDB) requereu audiência pública para debater a situação da combalida Agência Brasileira de Mineração (ABM), criada pelo ex-presidente Michel Temer.

Um grupo de parlamentares viria ao estado, a fim de conhecer a realidade do setor, mas os acontecimentos políticos seguintes, na Câmara e no Senado, atrapalharam a programação.

Se hoje o interessado em investir na exploração de metais e minerais buscar a ANM em Porto Velho sentirá o precário atendimento desse órgão, por falta de geólogos, economistas e administradores.

O que lhe sobra são muitas pedras no caminho; uma CMR anêmica e uma ANM malparida entre outras agências nacionais.

____

Em 2023 o economista Antônio Teotônio de Souza Neto) dizia-me que o Estado de Rondônia se posiciona como fronteira de desenvolvimento, no setor mineral, oferecendo boa diversidade de substâncias minerais metálicas: cassiterita, chumbo, columbita, manganês, tantalita, wolframita e zinco; não metálicos: areia, argilas comuns, calcário (rochas), cascalho, diamante, rochas britadas ornamentais (granito e afins).  Texto

------------------------


________________

*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

-----------------------------------------

Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

Publicidade

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA - O ódio que adoece a alma do Brasil e nos afasta uns dos outros

 CRÔNICA DE FIM DE SEMANA

O ódio que adoece a alma do Brasil e nos afasta uns dos outros

Arimar Souza de Sá

foto - edição Rondonoticias

Os dias que correm têm imposto um pesado ônus à vida de todos nós — sobretudo àqueles menos favorecidos pela sorte. Os noticiários estão carregados de fatos ruins, com a dor dando lastro a batalhas penosas. É a tal da briga do bem contra o mal.

Vivemos tempos em que o ódio parece ter feito morada no coração de muitos brasileiros e, como um veneno servido em pequenas doses diárias, ele vai entorpecendo o espírito e enferrujando os sentimentos mais nobres. E o pior: está em todo canto — em casa, na rua, no ambiente de trabalho, no lazer, na imprensa, e até na caneta... Como fogo de palha, se alastra rapidamente e consome tudo ao redor: amizades, famílias, vizinhanças e, principalmente, a paz interior — pois vitima tanto o odiento quanto o odiado.

Há homens — e não são poucos — que ruminaram e cultivam o ódio durante toda a vida. Alimentaram mágoas como quem cultiva espinhos em vez de flores. Armazenaram ressentimentos como quem guarda um punhal no bolso, esperando o momento certo de ferir alguém para satisfazer seus instintos bestiais e dar o troco. E nesse apego às feridas, adoeceram — tornaram-se pessoas sem vida, sem rumo, amargas. O corpo se curvou, o espírito se fechou, o coração se enrijeceu como pedra, e eles foram se lascando sozinhos, coitados, sem nunca mudar seu modo de ser, e tudo indica que vão para a cova assim.

O ódio, ao contrário do amor, não cria pontes — cava abismos. É uma chaga invisível, uma febre que arde por dentro e transforma pessoas inteiras em ruínas emocionais. É comum cruzarmos com esses seres minúsculos por aí, abrindo fendas e ruínas no meio social em que vivem.

Durante minha vida profissional — ainda na juventude — seja no Incra, no Banco do Estado de Rondônia, na Procuradoria do Estado, ou simplesmente na convivência comum com pessoas do cotidiano, vi essa tragédia de perto. Estive próximo de homens que, mesmo instruídos e capazes, deixaram o ódio enraizar-se como erva “braba” em terreno fértil. Era repugnante conviver com eles, mas tive que suportar, não tinha a quem recorrer para me ver livre desses tipinhos. Eram prisioneiros de si mesmos, encarcerados em celas cujas chaves haviam eles próprios jogado fora e se debatiam fazendo brutalidade com que estivesse ao seu redor.

Recordo-me, em especial, de um vizinho que tive. Com o passar dos anos, foi se afastando do convívio social. Já não recebia visitas, não aceitava conselhos, falava da vida de todo mundo às escondidas e, quando confrontado, era um covarde — mesmo carregando uma arma de fogo na cintura, em razão da profissão.

Com o tempo, tornou-se como uma nulidade, uma casa sem janelas: a luz não entrava mais e o ar já não circulava. Já abraçado à solidão, somada ao ódio e à inveja que ruminava, foi consumindo a si próprio dia após dia e se desfazendo por dentro, como carniça que apodrece ao relento. Sua existência tornou-se um lamento digno de pena e acabou isolado do convívio com os demais vizinhos.

Hoje, o Brasil vive assim — uma crise que vai além da inflação, dos escândalos ou da instabilidade política. A verdadeira crise está instalada na alma da nação. O ódio tornou-se o epicentro de tudo — como um terremoto silencioso que trinca os alicerces invisíveis da sociedade. Ele se alastra nos discursos, com o intuito de minar o adversário; se espalha nas redes sociais; se infiltra nas rodas de conversa; e se entranha até nos lares mais antigos. Amigos de infância se evitam, irmãos se bloqueiam, colegas se atacam. O Brasil adoeceu, está partido — e não apenas no mapa.

É urgente, então, que surja uma liderança que una, que pacifique, que cure esse “Brasilzão de Meu Deus”. Alguém com a estatura de Ulysses Guimarães, que ergueu a Constituição e a denominou de “Cidadã”, como quem levanta um livro sagrado em pleno campo de batalha. Dr. Ulisses foi homem de diálogo e coragem serena, que via no adversário um cidadão a ser ouvido, e não um inimigo a ser esmagado — como fazem hoje com o ex-mandatário da nação. Precisamos de um nome cuja ideologia não chafurde na vermelhidão, que não grite para se impor, nem crie narrativas para ludibriar o povo, mas que fale para reconciliar.

Jesus Cristo, em sua infinita sabedoria, ensinou que devemos perdoar “setenta vezes sete”. E mesmo cravado na cruz, no auge da dor e da injustiça, teve forças para dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. De certo, o Pai Celestial sabia que o ódio é como um rio de água contaminada — por onde passa, tudo morre. E que o caminho da vida está no amor, na compaixão, no perdão — e jamais no rancor ou na desforra para saciar o orgulho ferido.

É triste ver amigos antigos, brigarem por conflitos de ideologia, ou marido e mulher que compartilharam alegrias e dificuldades, terminarem seus dias separados por palavras atravessadas, ou por orgulho ferido e não digerido, cultivando a guerra — mesmo tendo gerado filhos.

O orgulho, aliás, é irmão gêmeo do ódio. Ambos moram no mesmo coração trancado por dentro. Impedem o perdão, bloqueiam a palavra “desculpa” e tornam impossível o simples gesto de estender a mão.

Precisamos desarmar os espíritos e dar um tranco no ódio e nas desavenças por besteira. A paz começa dentro de cada um de nós. É preciso coragem para perdoar, grandeza para pedir perdão e humildade para ouvir — sem medir consequências. O ódio mata — se não o corpo, certamente a alma.

O Brasil, polarizado e com tantos miseráveis a mendigar um pedaço de pão, clama por pacificação. Precisa de cura — mas não aquela prescrita por decretos, tribunais ou sentenças frias e desumanas. Ela nascerá no dia em que o coração do povo reaprender a amar e, sobretudo, quando os poderosos deixarem de usar a caneta como instrumento de vingança e a empunharem como ferramenta de justiça, como ensinou Santo Agostinho em sus célebre frase: “Devemos combater o erro, não o homem”.

E somente assim, poderemos reencontrar a paz, reconstruir os afetos e devolver à nação o caminho da concórdia e da esperança que ela tanto precisa.

PENSE NISSO!
AMÉM!

Publicidade

A tornozeleira e o terno

A notícia chegou como chegam as ondas numa praia nervosa: fazendo barulho, empurrando areia e derrubando castelos. Bolsonaro, o ex-presidente, aquele que andava cercado de seguranças, seguidores e certezas, agora vai andar cercado de limites – e de tornozeleira.



Sim, uma tornozeleira eletrônica. Daquelas que não escolhem ideologia, nem lembram do voto da urna. Ela apenas apita, vigia, calcula os passos, limita as distâncias. Fria, objetiva, imparcial. A tornozeleira é como um juiz sem toga e sem Twitter.

O Brasil assistiu ao noticiário com aquela mistura de espanto e déjà vu. Já vimos poderosos sendo puxados para o chão por esse discreto artefato eletrônico. Já vimos discursos inflamados derreterem sob a luz de uma decisão do Supremo. Mas há sempre algo de surreal quando o homem que vestiu a faixa presidencial tem de ajustar o calcanhar a um chip de vigilância.

Será que combinaram o modelo da tornozeleira com os ternos escuros e a gravata verde-amarela? Ou será que, no Brasil, o figurino político agora inclui, para alguns, um apetrecho que não sai no retrato oficial?

Entre um mandado e outro, entre uma entrevista e um silêncio forçado, o país respira mais uma página da sua crônica política — essa mistura improvável de drama, comédia e realismo mágico. E nós, os leitores dessa história que se escreve em tempo real, seguimos tentando entender: onde termina o líder e começa o réu?

Talvez, no Brasil de hoje, a pergunta mais honesta seja: até quando uma tornozeleira pesa menos que a consciência?

Por Johnnys

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam, necessariamente, a posição ou visão editorial deste site.

Quase um século atrás, os "enfermos" de Porto Velho pediam socorro no São José

Quase um século atrás, os "enfermos" de Porto Velho pediam socorro no São José

Montezuma Cruz*

foto - Hospital São José


Só o Hospital São José tratava 169 casos de paludismo em 1934. A malária, doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, viria crescer assustadoramente no auge do período migratório, entre os anos 1970 e 1980. A edição do jornal Alto Madeira em 27 de janeiro de 1935 publicava a estatística do "anno" de 1934, assinada pelo diretor, médico José Collyer. Mantenho a maioria da linguagem médica de 91 anos atrás.


Era o ano da fundação da Universidade de São Paulo (USP); da promulgação da terceira Constituição Brasileira, em 16 de julho. Em 23 de janeiro o presidente Getúlio Vargas assinava o decreto n° 23.793, aprovando o primeiro Código Florestal Brasileiro, e em 6 de julho, o decreto n° 24.609, criando o Instituto Nacional de Estatística (atual IBGE).

O hospital diagnosticava: 49 casos de embaraço gástrico; 44 de "gripe" pulmonar; 26 de blenorragia (genorreia); 29 de úlcera "syphilítica"; 17 de reumatismo articular; 23 de pneumonia; 14 de "syphilis" terciaria; 13 de cancro venéreo; 12 de icterícia palustre; 11 de ascite palustre; 7 de úlcera cancerosa; 8 de reumatismo muscular; 9 de tuberculose pulmonar; cinco de "dysenteria amebiana", entre outras doenças e enfermidades: septicemia, furunculose, escrofulose, queimaduras de 3º grau, carcinoma, envenenamento, gangrena "humida", Albuminuria, "cephalea syphilítica", eclampsia pós-parto, "reumatismo deformante", úlcera duodenal, e choques traumáticos diversos.

Passaram pelas três  clínicas do Hospital São José 735 pessoas. Já as consultas grátis atenderiam 3.800 pessoas que receberam 4.230 receitas com 11.250 fórmulas.

Lá chegavam pessoas com dedos esfacelados, abcessos nas mãos e no pescoço, falanges carentes de amputação, quistos sebáceos, tíbias fraturadas e outros ferimentos que resultaram em 147 operações praticadas com anestesia locale geral.

Caprichoso e atento esse doutor Collyer. Fosse hoje, certamente ele seria também cumprimentado pela Sesau e pelo Ministério da Saúde por contribuir corretamente com as estatísticas nacionais.

Vamos lá:

Dos 12 partos "todos laboriosos" em cinco primíparas (mulher que dá à luz pela primeira vez) e sete multíparas nasceram nove "creanças" – quatro do sexo masculino e cinco do sexo feminino. Quatro mulheres foram operadas para extração de placentas em abortos de três a cinco meses.

A Sala de Curativos atendia gratuitamente 5.450 pessoas, aplicando-lhes 3.850 injeções intramusculares, subcutâneas e endovenosas. Durante o ano morreram 39 pessoas, das quais, seis em novembro. No dia 8 desse mês morria Carlos Chagas, médico sanitarista, infectologista e cientista brasileiro.

1934 foi mesmo um ano especial para a ciência: Em 1934, o médico sanitarista e pesquisador brasileiro Carlos Chagas já era conhecido por seu trabalho no combate a doenças tropicais (malária, especialmente), pela descoberta da doença de Chagas. Ele dedicou sua vida ao estudo dessas doenças e foi pioneiro em descrever completamente uma doença infecciosa, incluindo o patógeno, o vetor, os hospedeiros e a epidemiologia.

Morria em 1934 a cientista Marie Curie uma das mais importantes da história, por suas descobertas revolucionárias no campo da radioatividade. Polonesa nascida em 1867, ela mudou-se para a França, onde estudou na Universidade de Paris e se destacou em um meio dominado por homens, algo raro para a época.

Junto com seu marido, Pierre Curie, começou a estudar substâncias que emitiam um tipo misterioso de energia, que foi chamada de “radiação”. A dedicação de Marie a esse campo levou à descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio e o rádio. Essas descobertas revelaram que alguns materiais podem emitir energia por muito tempo, sem uma fonte externa.
foto - Cópia do Jornal


Cuidados com a pele

Ainda correndo os olhos sobre a 1ª página do Alto Madeira, vejo no pé da página o anúncio do Belayacy, um "magnífico preparado amazonense para a conservação da beleza da pelle". "Use este excelente preparado e sua pelle estará preservada contra: espinhas, sardas, pano, empinges e qualquer affeção. Use-a nas axilas e no busto para eliminar o 'mau cheiro' do suor, conservando-lhe ao mesmo tempo sua pelle aveludada e ricamente perfumada."

foto - Babete Oliveira

Não se trata de remédio, mas nos anos 1980 e 1990, a advogada cabeleireira Bebete Leite Oliveira aplicava nos rostos femininos uma mistura de andiroba com suas massas costumeiras para peles femininas e masculinas. Em Porto Velho, ao menos naquele salão muito frequentado na Avenida Pinheiro Machado nº 768, sabia-se que andiroba é uma planta medicinal da espécie Carapa guaianensis, muito utilizada para auxiliar no tratamento de reumatismo ou dor muscular, devido às suas propriedades medicinais anti-inflamatórias e antirreumáticas.

Outro assunto, né? Inegável, porém, reconhecer essa tradição do estudo e do uso de produtos naturais na Capital rondoniense. 

------------------------


________________

*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

-------------------------

Publicidade

MULHER SERINGUEIRA - Lodi, mestre das letras, lança “Varadouro”, contando a história de Maria da Onça

MULHER SERINGUEIRA

Montezuma Cruz*

Foto - Edson Lodi e Maria Gomes

Ao longo de duas décadas o escritor, jornalista e poeta Edson Lodi Campos Soares vem resgatando notáveis personagens da Amazônia Brasileira, cuja vida já não passa mais despercebida. Ele agora lança “Varadouro”, seu mais recente livro, contando a história de Maria Gomes da Silva, conhecida como Maria da Onça. Nascida em Lábrea (AM), a 373 quilômetros da Capital de Rondônia, e a 852 Km de Manaus, dona Maria seria mais uma anônima entre os seringueiros da região, não fosse o escritor tê-la conhecido. Ela se mudou para o Acre.

“Varadouro”, que saiu pela Capella Editorial, retrata a dura lida de uma dessas milhares de mulheres seringueiras. “Ela faz parte de histórias subestimadas, difusas como a sombra das porongas dos maridos e companheiros, mas que carregam prodigiosos testemunhos da vida na floresta”, relata Lodi.

foto - Livro Varadouro

O livro apresenta vegetais e animais da floresta, com seus nomes, histórias e mistérios.

Lodi viagem todo ano para lugares distantes mais de 2 mil Km de Brasília: Cruzeiro do Sul (AC), Rio Branco (AC), Manaus (AM), Porto Velho e Tefé (AM). Em alguns deles despertou-lhe o desejo de conhecer e ouvir relatos de pessoas que nasceram, ainda trabalham, e nunca saíram dali.

foto - Maria Gomes


Dona Maria é daquelas que zela pelo acampamento, organiza ferramentas, caça, pesca, coleta, e até enfrenta onças para proteger corajosamente suas famílias e locações.

Convivendo com a rotina dessa personagem, o autor expôs o seu sentimento de admiração e compreensão do quanto ela simboliza em seu trabalho árduo, porém, exercido com vontade e persistência.

Antigos seringais e alguns remanescentes, sempre foram palco da mulher. Por tradição, mulheres em seringais amazônicos se destacaram em seu protagonismo, esforçando-se na extração diária do látex nas árvores e na paciência para conseguir a organização comunitária que lhes asseguram os mínimos direitos.

O trabalho de resgate de personagens que Lodi desenvolve sempre presente em cantões amazônicos já é conhecido por um público que aprecia histórias de pessoas simples espalhadas por Rondônia, Acre e sudoeste amazonense.

Zeloso com o patrimônio cultural rondoniense, por exemplo, no livro “Cantiga de viola” Lodi transporta o leitor para a cidade de Porto Velho entre o final da década de 1960 e início de 1970, mostrando a valorização do cancioneiro popular por um homem que também doutrinou pela música: o mestre José Gabriel da Costa, fundador do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.

Anteriormente, seu livro “Eu Vi a Lua – Histórias de Mulheres Ayahuasqueiras” (Editora Pedra Nova) apresentou “a beleza do semblante feminino permeado de lutas e vitórias, através das histórias de 12 mulheres que encontram no Vegetal (ou também Chá Hoasca, na União do Vegetal, e Daime, nas linhas religiosas do Alto Santo e da Casa de Jesus – Fonte de Luz) inspiração de vida e caminho espiritual.”

Agora, ele traz o viver amazônico de uma mulher irmanada a outras habitantes de seringais na região. Todas elas não se limitaram aos serviços caseiros e aos cuidados com a família; foram mães de família honradas, sustentaram a família, e ofereceram o seu grande quinhão à consolidação dos bons negócios de seringalistas.

 

📚 “Varadouro”

 Lançamento, dia 1° de julho, a partir das 19h30, na sede do Memorial José Gabriel da Costa, na Rua Abunã nº 1419, Bairro Olaria, em Porto Velho.



________________

*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

-------------------------

Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.


Publicidade

O rio comanda a vida, o motor de rabeta salva o canoeiro

O rio comanda a vida, o motor de rabeta salva o canoeiro

MONTEZUMA CRUZ*

No rio seco, o motor de rabeta vence longas distâncias tirando moradores do isolamento (Foto A Gazeta do Acre)

Fiz três viagens pelo Rio Juruá de duas décadas para cá. Vi o esforço dos pilotos de canoas e barcos para desencalhá-los entre Marechal Thaumaturgo e o Lago Ceará, na Reserva Extrativista do Alto Rio Juruá, no Acre. Um dos 20 maiores rios do mundo, ele tem seu período de cheia que desabriga pessoas, mas seca todo ano. São situações que expõem a verdadeira face da Amazônia onde as águas carregam sedimentos e galhos de árvores. Há trechos assoreados. 

Canoa de Maraçamduba, iguais a esta, resistem bem no transporte diário Juruá e afluentes (foto Montezuma Cruz)

A viagem de 2009 foi especial: pelo menos dez vezes a lancha voadeira parou. Seus condutores se revezaram numa espécie de via-sacra aquática sem altar, exigindo muita paciência para chegar ao Lago do Ceará, alcançado pelos rios Amônia e Juruá. Na seca, só canoas com motores de rabeta viajam normalmente. Seus pilotos sabem que não serão prejudicados. Tanto vencem trechos com menos de meio metro d'água, quanto os "encachoeirados", próximos a pedras e onde a profundidade alcança dois metros e a correnteza pode provocar acidentes.

Dias antes, eu havia visitado um fabricante de canoas na cidade de Rodrigues Alves, marceneiro de mão cheia, especializado em produzir a embarcação movida a motores de popa e de rabeta. Ele utilizava a madeira maçaranduba (espécie Manicara), muito resistente.

É de 60 litros o consumo de óleo combustível numa lancha na viagem de ida e volta entre o porto de Thaumaturgo e a Resex do Alto Rio Juruá. Nossa lancha levou um tambor reserva de 20 litros. A área portuária da cidade possui três pequenos embarcadouros, onde se adquire óleo.

Com as curvas povoadas de praias, tem-se a impressão que os 40 quilômetros do percurso se transformam em quase cem. O vaivém de canoas levando bebês, crianças e adultos se incorpora à paisagem. Entre eles são intercalados colchões, malas, baldes, gêneros alimentícios e o que mais for possível transportar sob o mormaço ou debaixo de chuva. Os mais cuidadosos não ligam o motor sem levar uma lona para cobrir as "traias".

No trecho entre a sede do município e a Resex são bem visíveis nos barrancos os buracos feitos por caranguejos. Parece um tabuleiro. Bois e vacas descem de uma altura de dez a 30 metros até as praias, ali permanecendo até o entardecer. Alimentam-se no viçoso capinzal. Pena que perdi meu arquivo do Juruá, com fotos desses animais em plena praia.

Barcos de prefeituras servem às famílias sem recursos, cujo caminho é o leito do rio (Foto prefeitura de Thaumaturgo)

Perto do rebanho veem-se árvores imbaúbas, uma ao lado da outra. Elas nasceram e cresceram assim. Na beira da água há marrecos, urubus e garças brancas. No alto das árvores, ninhos de japiim, um pássaro conhecido pela imitação do som de outros, entre os quais, periquito, arara, tucano e capitão-do-mato.

A voadeira não vence duas  mini-cachoeiras em  trechos de correnteza. No período de seca, os pilotos têm que descer e puxá-la por cordas. Foi o que ocorreu nesta viagem, com os jovens Marlon da Silva e Átilon Pinheiro. A lancha deixou de navegar e precisou ser arrastada. "No inverno é bem mais fácil", garante Pinheiro.

A cada curva de rio, a cada quilômetro de praia, galhadas e troncos surgem à frente. Estão ali inertes, há muitos anos, atrapalhando a navegação de canoas, barcos, lanchas voadeiras e dos batelões. A cena é semelhante ao "cemitério" de troncos submersos em lagos de hidrelétricas. 

Galhos, areia e pedras danificam as hélices das embarcações. Potência não conta nessas viagens. Só os motores de rabeta dois tempos ou quatro tempos obtêm êxito.

Se alguém conseguisse retirar das águas galhos e árvores inteiras liberados do alto dos barrancos, teria um estoque de lenha suficiente para alguns anos. Ninguém, nem o poder público se interessa por essa lenha. A lenha levada pela correnteza se espalha por quilômetros nos leitos obstruídos dos rios Amônia e Juruá.

E não é que, à noite, o piloto Marlon da Silva se revela um pé-de-valsa - ou pé-de-xote, dançando à vontade com todas as meninas e mulheres do lugar? Contou-me que elas eram "amigas, primas ou sobrinhas". O baile é improvisado numa sala na sede da Resex e num dos quartos da casa de madeira.

Amanhece o domingo e o som de um CD repete bregas dos anos 1970 e 80. São 6h30: o sol penetra na neblina que ainda cobre lavouras de fumo e feijão, pomares, escolinha, casas, e os abrigos de bois, cabritos, porcos e ovelhas. Alguns dançarinos reclamam do fim da festa, outros reclamam e se deitam no assoalho do casarão de dona Aida Guimarães, o ponto de encontro das famílias deste canto da Resex.

Visitantes e moradores caminham até a beira do rio para a despedida. Já sabem que lanchas voadeiras não terão vez, mesmo com potentes motores-de-popa. Para vencer as distâncias, devagar e sempre, vale muito mais a pequena hélice da rabetinha, girando feito cata-vento.

– Aqui é assim mesmo, toda vez que seca. A gente se acostuma a fazer o povo descer, enquanto a gente puxa ou empurra, principalmente lanchas – comenta o sorridente Marlon, sem demonstrar o mínimo estresse com a profissão. Se ele não saiu do Acre, deve estar lá até hoje, socorrendo seus passageiros.

Texto anterior - Jagunços de colonizadora jogaram colono baleado ao formigueiro

________________

*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).

-------------------------

Nota de responsabilidade

As opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

Publicidade
Publicidade