Gênese rondoniense (1): Marcha para o Oeste desembocou nos NUARs MONTEZUMA CRUZ* |
Famílias de migrantes posam para a foto durante a viagem rumo a Cacoal e Espigão d´Oeste (foto Marcos Santili) |
William Cury, 45 anos depois: pingos nos is a respeito da elevação de Rondônia a estado (Foto Rosinaldo Machado) |
De Humberto Guedes, acompanhávamos as atividades governamentais quando ele confiou ao filho, secretário de Planejamento Luiz César Auvray Guedes, a contratação de profissionais de arquitetura e geógrafos da Universidade de São Paulo, para o planejamento de cidades. Somando-se esse a outros feitos, não é exagero dizer que aquele governador “plantava as bases dos futuros municípios.”
Por que não reconhecer o papel legítimo de outros atores, se até ex-ministros e suas respectivas equipes ofereceram o seu quinhão a um dos mais famosos partos geopolíticos do século passado: a criação do estado, três anos depois de Mato Grosso do Sul?
Isso ocorrera desde as notáveis reuniões entre os
presidentes, generais Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo,
Golbery do Couto e Silva (Casa Civil) e seus ministros João Paulo dos Reis
Veloso, Delfim Neto – três titulares do Planejamento e Coordenação Geral;
Maurício Rangel Reis (Interior) e Alysson Paulinelli (Agricultura).
Cada qual em seu quadrado, todos eles deram seguimento
ao ímpeto da notável Marcha para o Oeste. Para viabilizar essa Marcha, o
governo Getúlio Vargas estabeleceu acordo com os Estados Unidos, ainda durante
a Segunda Guerra Mundial.
Antes de pisar solo rondoniense, o ministro Paulinelli
já havia “caído nas graças” de Geisel ao lançar o Programa de Desenvolvimento
do Cerrado (Polocentro) e apoiado o desenvolvimento agrícola da região de
Dourados (MS).
Lembra o engenheiro agrônomo, pesquisador e professor
universitário Eneas Salati, que os EUA queriam a borracha e o governo
brasileiro necessitava de recursos financeiros para executar os planos de
desenvolvimento. Recrutados no porto de Fortaleza (CE), os “soldados da
borracha” nordestinos que optaram pela selva inóspita ao teatro da guerra
viajavam de barco para Amazônia, incursionando por seringais brasileiros e até
bolivianos.
Esse capítulo todos conhecem: a exemplo dos acreanos,
com esforço incomum eles garantiram o látex exportado às indústrias
automobilísticas e de aviação nos EUA. Mais tarde, no governo de Juscelino
Kubitschek de Oliveira (1956-1961), a industrialização ganhava corpo. Ele
queria fazer “cinquenta anos em cinco.” Para alcançar seus objetivos, optou por
uma desnacionalização da economia e primou pela indústria de bens de consumo
duráveis – eletrodomésticos e automóveis – em detrimento da indústria de base
que tinha sido prioridade no governo de Vargas.
“O favorecimento a empresas estrangeiras provocou a
aceleração da industrialização no Brasil”, analisou o também graduado em
Agronomia Adriano Luís Schünemann. Nesse embalo, JK projetou Brasília, e com
ela, a interligação dos diferentes centros econômicos do País.
Vieram ideias e projetos, e um deles se afunilou na
construção da BR-29 (depois BR-364), que alcançou Cruzeiro do Sul, na fronteira
Brasil-Peru.
Dois anos atrás, eu e os colegas Lúcio Albuquerque e Rosinaldo Machado ouvimos William Cury durante duas horas, na casa dele. Foi o tempo suficiente para clarear a maneira como os então governadores Teixeirão (aqui) e Júlio Campos (Mato Grosso) conseguiram o maior financiamento da história do Centro-Oeste da Amazônia Brasileira, a fim pavimentar “a estrada de JK e demarcar terras indígenas.”
O ex-presidente da Codaron e organizador do Polonoroeste, com os repórteres Lúcio Albuquerque e Montezuma Cruz (foto Rosinaldo Machado) |
Ele nos contou que um dia saiu de avião de Porto Velho
e desembarcou em Brasília, indo diretamente à sede do IPEA fazer palestra para
um seleto grupo de economistas. IPEA é a siga do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, ligado ao Ministério do Planejamento.
Cury demonstrava à nata da tecnocracia a concepção do
Programa de Desenvolvimento Integrado para o Noroeste do Brasil (Polonoroeste),
que fora concebido sob suas mãos.
O ex-presidente da Codaron clareia a história, na qual
agora aparecem aqueles até então ocultos, especialmente o ministro do
Planejamento Antônio Delfim Neto, que autorizaria as negociações com o Banco
Mundial para obras de asfaltamento da BR-364.
Da noite para o dia Rondônia e Mato Grosso desfrutavam
do montante de US$ 1,2 bilhão, uma fortuna nunca imaginada por aqueles que
sonhavam com o estado.
A dinheirama vinha de Washington, DC. Entusiasmado, o
chefe da Divisão daquele banco para o Brasil, Robert Skilling, tanto apreciou o
trabalho de Cury que desejava vê-lo governador!
Foi Bob quem” derrubou” Cury do cargo mais
adiante, pois se acostumava a desembarcar em Porto Velho e dispensava despachar
no Palácio Presidente Vargas, ficando à vontade na sede da Codaron, na Rua José
de Alencar. O secretário de planejamento estadual, José Renato da Frota Uchôa,
não gostava nada do que via.
As relações com Bob vinham desde Humberto Guedes, revelou-nos Cury em sua conversa. Em 1979, no final do governo daquele coronel, Cury trabalhava na Embrapa, quando o dirigente bancário americano vinha a Porto Velho pela primeira vez.
“Ele desembarcou aqui, hospedou-se e foi diretamente ao
Palácio Presidente Vargas, onde ouviu do governador Guedes: Olhe, eu estou em final de governo, há
situações que demandam tempo, procure o Cury” – descreveu.
No entanto, Guedes atendeu o visitante que programara
passar apenas três dias em Rondônia, mas aqui permaneceu duas semanas. Bob
tinha que conhecer a Embrapa.
“Eu o levei para todas as bases físicas da empresa
aqui e no interior” – lembra Cury, citando Ouro Preto e Presidente Médici. Ali
se desenvolviam cultivares de forrageiras, e em Vilhena vicejavam lavouras de
café da variedade robusta.
O ciúme, uma das chagas da Humanidade, passou a correr
solto e venenoso entre as paredes da sede do Palácio Presidente Vargas. Daí...
E numa terra que até então endeusava o ministro Mário
Andreazza (Transportes e Interior), considerado o maior aliado de Teixeirão,
é possível constatar nessa gênese outros atores importantes da construção do
estado.
Texto anterior - Mader ajudou mineração que ainda desconhecia a “pedra da cura”
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No próximo texto, saiba como William Cury convenceu o ministro do Planejamento Delfim Neto a avalizar o dinheiro do Banco Mundial e quem fazia parte de sua notável equipe.
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