Mader ajudou
mineração que ainda desconhecia a “pedra da cura”
MONTEZUMA CRUZ*
Pedra de topázio: sonho industrial ficou nas calendas (foto: Ana Tomish) |
O negócio mineral começou
a prosperar no final da década de 1960, quando já se detectava a presença da
pedra topázio. Em seu governo, o coronel João Carlos Mader apoiou grandes
grupos que chegaram a Rondônia para substituir garimpeiros. Pelo que pesquisei
no DOC, da Câmara dos Deputad0s, ele desembarcou em Porto Velho já filiado à
Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do governo
ditatorial.
No dia 8 de abril de 1970,
o Congresso Nacional aprovava a emenda das eleições diretas em 11 estados e
elas foram realizadas em outubro; em 27 o presidente Castelo Branco decretava o
Ato institucional n° 2, extinguindo os partidos políticos.
No artigo anterior eu
lamentei que nunca interessou à Transparência Governamental mostrar resultados,
nem ao Governo Estadual promover algum evento que demonstre a riqueza mineral rondoniense,
notadamente a cassiterita.
Coronel João Carlos Mader: o governador que apoiou o Código de Mineração (Foto Wikipédia) |
Alegava-se que a lavra do
minério de estanho (cassiterita) era onerosa devido à falta de energia
elétrica. Porto Velho utilizava usinas termelétricas, enquanto o interior movia-se
com motores particulares até se livrar da escuridão, o que demorou alguns anos.
Iniciada em 1982, a
Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari, só funcionou 14 anos depois, quando
empresas mineradoras com sede no Rio de Janeiro já encerravam as atividades,
deixando crateras cheias de lama, muitos desempregados e árvores medicinais
tombadas por suas máquinas gigantes. O mulateiro (regenerador de pele), por
exemplo, foi uma delas, mas esse é outro capítulo da história botânica e
mineral.
Dez anos depois das
incursões do seringalista Joaquim Pereira da Rocha pelas terras dos seringais
Angustura e União (início dos anos 1950, onde mais tarde surgiria Machadinho
d’Oeste), o Decreto nº 1665 de 26/11/1962, publicado no dia seguinte no Diário
Oficial da União, também autorizava Moisés Benarrós Israel a pesquisar
cassiterita na área de 500 hectares denominada São Lourenço, na confluência dos
Igarapés Sauvinha e da Desgraça, no município de Porto Velho.
Nesse cenário em que são
lembrados os empresários Rocha, Moacir Mota e Flodoaldo Pontes Pinto, o Sr.Benarrós
só veio a ser incluído quando professores da UNIR começaram a apurar a história
do ciclo mineral – de 1990 para cá.
Apurou-se que o título da
autorização de pesquisa custava naquela ocasião a bagatela de cinco mil cruzeiros
e valia por dois anos. Normalmente, o Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) renovava as pesquisas.
De sua parte, a Mineração
Brasileira Estanho Ltda (Mibrel), do Grupo Paranapanema (mais tarde vendido a
um grupo peruano) começaria a trabalhar na década de 1980, coincidindo com a
descoberta do Garimpo de Bom Futuro, em Ariquemes – considerado, a céu aberto,
o maior do mundo.
Em 1986, quando suas terras foram ocupadas por garimpeiros
também interessados na mina em Massangana, essa empresa detentora de lavra
desde 1972 considerava-se “estritamente brasileira” fazendo contraponto, por
exemplo, à Brascan (Brasil-Canadá) e, assim, lançou nota no jornal “Alto
Madeira” protestando contra “a invasão por grupos de indivíduos que começam
dilapidar o patrimônio do País.”
Exageros à parte, na
verdade, a Massangana pretendia demonstrar seus investimentos no setor.
A nota falava em “desordem
e intranquilidade”, acusando “indivíduos com interesses escusos (...) de
operarem a mando de grupos internacionais de joalherias e pedristas, aos quais
interessava desestabilizar totalmente o mercado produtor, pulverizando para
pagar preços baixos pelo minério sem necessidade de investimentos.”
Para a Mibrel, que
investira no negócio 280 milhões de cruzados [moeda daquele período] não havia
dúvida: a situação causada pelos garimpeiros resultava na evasão de divisas ao
estado e ao País. E a vila, com 2 mil pessoas, segundo a empresa, estava
“disposta ao progresso”, mesmo enfrentando 11 mil casos de doenças diversas,
notadamente a malária.
Alegava ainda “ter
conservado a BR-421 e concluído a ponte São Jorge, beneficiando toda a margem
esquerda do Rio Jamari e mantido a balsa que fazia a ligação entre as duas
margens do rio, possibilitando a colonização agrícola.”
Em 24 de maio de 1986, a
Associação do Serviço Médico em Massangana publicava outra nota afirmando que
seus profissionais cadastrados no Instituto de Administração Financeira da
Previdência Social prestavam grande assistência aos habitantes das linhas:
“Somente em 1983 foram atendidas 3,8 mil pessoas; em 1984, só com malária, 509;
em 1985, 10 mil atendimentos, cada um custando em média 800 cruzados; em 1986,
4,9 mil pessoas recebiam remédios e consultas, e cinco partos normais foram
feitos ali, juntamente com exames de sangue, RH, VDRL [para sífilis],
prognósticos, bacterioscopia e lâminas para pesquisas de malária.”
Em meados da década de
1990, a empresa negociou a mina depois pertencente à Cooperativa Estanífera de
Mineradores da Amazônia Legal Ltda. [Cemal], detentora dos direitos minerários
e que em 2005 estabeleceu parceria com um grupo de Hong Kong.
Entrada de Monte Negro município do Jamari, a 249 quilômetros de Porto Velho (Frank Nery) |
Esse grupo estrangeiro
atuou no município de Monte Negro, estimulando a produção de topázio e obteve
qualidade, uma vez que as pedras encontradas na região são detentoras de
características únicas. Segundo geólogos especialistas, passando pelo processo
de bombardeamento para coloração muito mais rápida do que qualquer pedra do
mundo.
Obteve-se naquele período aproximadamente
80 toneladas de concentrado de óxido de estanho, a cassiterita.
Monte Negro surgiu como
núcleo urbano de apoio rural do Projeto de Assentamento Dirigido Marechal Dutra
[do Incra] com o nome de Boa Vista, entretanto, por ser homônimo da Capital do
Estado de Roraima teve o nome mudado depois da emancipado, em 1992.
Saberia Mader que o
topázio é considerado na litoterapia a “pedra da cura”? Certo é que os estudos
vieram a se consolidar depois, no DNPM em Brasília, justamente quando ocorria a
expansão agrícola. Em 2019, o Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente
da Amazônia (Rioterra) iniciava um diagnóstico para propor alternativas
econômicas na região do Jamari.
0 então coordenador de
Projetos do Rio Terra, Alexis Barros, justificava: “A mineração acontece em
muitas partes do estado e cerca de 80% é manual, artesanal, podemos até chamar
de garimpagem. Precisamos levar dignidade a essas pessoas, com investimentos
privados e do terceiro setor.”
A conversa e o compromisso
animavam o então superintendente de Desenvolvimento Econômico, Sérgio
Gonçalves, que demonstrava satisfação com a parceria da organização. O secretário
se dispunha a minimizar impactos da mineração e a lapidar cristais
industrialmente em Monte Negro.
Pelo visto...
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