Olhando a
atividade elétrica do cérebro é possível observar o que está acontecendo na
vida da pessoa.
Em 2020, durante
o isolamento social, o convívio maior entre Carolina Santos*, 54 anos, e seu
filho Gabriel*, 16 anos, permitiu que ela percebesse alguns comportamentos
diferentes no adolescente, como falta de atenção em demasia. Com uma
investigação, Carolina descobriu que o jeito do filho não é desobediência ou
falta de vontade, como ela chegou a pensar. Trata-se do Transtorno de Déficit
de Atenção (TDA).
Com a descoberta
do diagnóstico até o início do tratamento, a jornada tem sido intensa e de
muito aprendizado para mãe e filho. “Tendo que dividir as atividades domésticas
com ele, na pandemia, eu percebi que ele não interagia comigo, eu precisava dar
vários comandos e era muito estressante, até então eu achava que era pirraça,
preguiça, menos que era algum déficit neurológico. Aí comecei a pesquisar e
conversar com pessoas da família que conhecem um pouco do assunto para
investigar. No final de 2020, ele fez vários testes com uma
neuropsicóloga”,
explica a mãe.
Estudante do 2º
ano do ensino médio, Gabriel tem uma rotina inclui aulas de reforço, curso de
redação, aulas de futsal e provas semanais. Biologia, Química e Matemática são
suas matérias favoritas e, para o futuro, ele deseja seguir na área da saúde.
“Pretendo me formar em Medicina para trabalhar com Pediatria porque admiro a
profissão e gosto de estar com crianças”, planeja.
Gabriel recebeu
o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) em janeiro de 2021, mas
em 2019 a orientadora da escola deu os primeiros sinais de alerta. “Ela disse
que meu filho é um menino ótimo, esperto, educado, mas muito repetitivo nos
erros, era preciso falar sempre a mesma coisa com ele. Depois desse sinal,
fiquei mais atenta, aí com a convivência mais próxima naquele período de
isolamento social, ficou visível para mim que ele apresentava algo diferente
mesmo”, relata Carolina.
Além da
medicação receitada por um profissional da área, Carolina recorreu ao
neurofeedback por indicação da cunhada, que é médica. “Esse acompanhamento foi
um divisor de águas na vida do Gabriel e na minha. Ele mudou muito, considero
que foi positivo. Até recebi elogio de um professor do meu filho dizendo que
ele está com o raciocínio mais rápido, mais concentrado. A escola tem elogiado
muito a evolução dele”, celebra a mãe.
Passada a
surpresa inicial do diagnóstico, que a deixou muito impactada, Carolina diz que
entendeu que a missão enquanto mãe era maior que só educar. “Hoje, entendendo o
TDA, mudei minha forma de agir, eu cobrava muito do meu filho algo que ele não
podia me dar e, por isso, pedi desculpas a ele”.
Neurofeedback
funciona como um treinamento cerebral
O psicólogo
e especialista em neurofeedback Yuri Wolff explica que o método é um
treinamento cerebral. “Imagine como se fosse ir à academia, o instrutor
apresenta os exercícios que você precisa fazer e, aos poucos, os músculos vão
se desenvolvendo. Com o neurofeedback é a mesma coisa. A partir desse olhar da
atividade elétrica do cérebro, a gente consegue observar o que está acontecendo
na vida daquela pessoa e o que a gente precisa treinar para chegar ao resultado
almejado”, explica Wolff.
Outra analogia
interessante é como andar de bicicleta que, por mais que você passe anos sem
pedalar, quando voltar a andar vai conseguir se equilibrar novamente. “No
neurofeedback o cérebro vai aprender habilidades novas que vão te pertencer e
permanecer no longo prazo”, complementa o profissional.
O treinamento
com neurofeedback é feito com ajuda de um aparelho que possibilita fazer uma
leitura do funcionamento do cérebro em tempo real. “É como se fosse um espelho
na tela do computador, que vai retroalimentar o que está acontecendo no cérebro
da pessoa. Por exemplo, no caso de alguém com dificuldade de atenção, é
possível observar nessa leitura quais são as áreas do cérebro que precisam ser
treinadas para que ela consiga ficar mais tempo atenta”, detalha Wolff.
Para a
realização do treinamento com neurofeedback, o psicólogo explica que não é
necessário ter uma solicitação médica. Antes de iniciar, é preciso fazer uma
avaliação de eletroencefalografia do cérebro para buscar suas potencialidades e
desafios. A depender dos resultados, define-se a quantidade de sessões
recomendadas. O protocolo de atendimento é individualizando e, normalmente, são
necessárias, no mínimo, 20 sessões para a obtenção da efetividade da técnica.
O neurofeedback é uma modalidade de Biofeedback,
também chamada de Biofeedback de EEG ou neuroterapia que surgiu do encontro do conhecimento das
áreas da medicina, psicologia, da psicofisiologia, biologia, engenharia biomédica e da informática. Enraizado em tecnologia, a técnica
consiste em um sistema de treinamento do cérebro 100% não invasivo, livre de
drogas, que ajuda o sistema nervoso central (CNS) a fazer melhor uso dos
recursos naturais do cérebro.
Durante o treinamento, a pessoa não recebe nenhum tipo
de estímulo elétrico vindo do aparelho, mas, sim, feedback ou sinais de saída
que se relacionam com suas próprias atividades elétricas neuronais. Assim,
sinais auditivos ou gráficos são emitidos cada vez que o cérebro funciona de forma
mais eficiente. “O objetivo
do treinamento é fazer com que o cérebro funcione de maneira mais eficiente,
orgânica e sem gastar mais energia, melhorando o desempenho cognitivo e a
estabilidade emocional”, destaca Wolff.
O neurofeedback
tem uma aplicabilidade muito grande, podendo auxiliar pessoas que sofrem de
insônia, déficit de atenção, estresse, ansiedade, fadiga, compulsão,
transtornos de humor, depressão, sendo também útil para vestibulandos e
concurseiros que querem aumentar o foco, absorver mais conhecimento ou atletas
que querem melhorar o rendimento nos esportes. “Com o neurofeedback conseguimos
treinar o cérebro para todas essas questões”, ressalta o profissional.
*Nomes fictícios a pedido do adolescente.
Fonte: Agência Educa Mais Brasil.