A biografia de médico baiano traz depoimentos que endossam o coro do parto sem dor.
Com relatos amorosos, sensíveis e
cheios de sentimentos, a jornalista baiana Fernanda Carvalho lança A Luz da Maternidade, seu livro de estreia na cena
literária que traz experiências e relatos de outras mulheres para narrar o
legado do médico obstetra Gerson de Barros Mascarenhas,
defensor do método soviético que prometia abolir a máxima bíblica do “parirás
com dor”, falecido em 2009.
“Tive a sorte de conhecê-lo já
aposentado, aos 90 anos, e de ser apresentada ao método do Parto Sem Dor, que
defendeu incansavelmente na capital baiana”, conta a jornalista que lembra ter
dado à luz, sem anestesia, sem gritos e sem sofrimento por conta das dicas e
ensinamentos adquiridos em conversas com obstetra. “Ele não fez o parto dos
meus filhos, mas marcou definitivamente a chegada dos dois ao mundo. A sensação
de plenitude que vivenciei no nascimento deles foi indescritível e minha
gratidão a ele, infinita”, completa a mãe coruja de Lucca, 18 anos, e João
Pedro, de 13.
À luz da sensibilidade, gerações de
baianos chegaram ao mundo pelas mãos amorosas do obstetra Gerson de Barros
Mascarenhas. Através de exercícios de consciência e técnicas de respiração e
relaxamento, ele ensinava mulheres, de todas as classes sociais, a parir sem
sofrimento muito antes de o termo parto humanizado virar moda. Além da
destacada trajetória profissional, lutou pelo respeito à vida também na cena
política. Acusado de comunista, foi preso na ditadura e defendido, à época, por
Irmã Dulce, que tinha convocado o médico espírita para ser diretor do seu
hospital filantrópico. À frente da Associação Bahiana de Medicina, deu importante contribuição para o
movimento de renovação médica no estado.
A biografia do médico narrada pela escritora nas páginas do livro A Luz da Maternidade é apenas um fio condutor, costurado por relatos de mulheres atendidas por ele e que endossam o coro em defensa do parto natural. “Quando tive o privilégio de conhecê-lo não podia imaginar a grandiosidade daquela história de vida que se desnudou para mim nas quase cem entrevistas que realizei ao longo da pesquisa para elaboração do livro”, revela a autora que é formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atua no mercado de comunicação corporativa há 15 anos.
Falar de mãe é ressignificar o
nascimento, o momento precioso de chegada de uma nova vida. “E o livro foi
escrito com muito carinho e acolhimento”, destaca Cristina, reforçando que a
publicação não deve ser lida apenas por mulher que desejam a maternidade. “Não
só mulheres, gestantes e mães devem ler, mas também companheiros, médicos e
todos que trabalham na assistência ao parto. A jornada materna deve ser
coletiva. Precisamos entender e ampliar essa leitura para todos os horizontes”,
reforça Cristina.
Livro não é anti-cesárea, mas defensor de um processo natural da gravidez
A escritora destaca que o livro não é
uma bandeira “anti-cesárea”, mas um convite para uma necessária reflexão das
vantagens do parto natural que oferece menores riscos para a mãe e o bebê e
inúmeras vantagens. “Aprendi com Dr. Gerson que a cesariana é um excelente
recurso quando necessário. Se há algo que impeça que o bebê chegue ao mundo
pelas vias naturais, o parto cirúrgico salva vidas! Eu tive a felicidade de viver
o parto normal com plenitude, mas é triste ver que, o que deveria ser natural,
hoje é a exceção. As mulheres que desejam partos naturais têm que lutar muito
para vencer a resistência do sistema, da família, dos amigos e até da classe
médica. E essa pressão pela cesariana nem sempre é colocada de forma explícita.
Então, muitas mulheres que querem acabam não conseguindo”, lamenta a escritora.
Ter vivido uma situação parecida,
levou Ana Cristina Duarte a mudar de médico e de profissão. Há 25 anos, nascia
sua primeira filha, Júlia, por meio de um parto cirúrgico a contragosto e, na
visão dela, desnecessário. “Era véspera de feriado e o médico pediu para eu ir
à maternidade ver como estava. Lá, ele falou que eu não tinha dilatação e que o
bebê poderia entrar em sofrimento fetal. Eu acreditei e fui para a cesariana. Logo
após o procedimento, ele avisou que quem faria as visitas seria um amigo dele
porque ele estava indo viajar. Foi ali que percebi alguma coisa estranha”,
conta. Tempos depois, Ana Cristina assistiu um documentário sobre a indústria
da cesárea no Brasil, decidiu estudar mais a fundo sobre a questão. “Foi aí que
eu entendi, de fato, o que tinha acontecido”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o total de partos
cesáreos em relação ao número total de partos realizados em um serviço de saúde seja de 15%. No
Brasil, as estatísticas são alarmantes. No serviço público, chega ao dobro
deste percentual. Nas maternidades particulares, supera 80%.
Dois
anos depois e grávida do segundo filho, Henrique, e mais informada, Ana
conseguiu ter um filho pelas vias naturais. E decidiu abandonar a área de Biologia para ajudar outras mulheres
defendendo a causa do parto natural. Com formação em Obstetriz, pela Universidade
de São Paulo (USP), já acompanhou mais de 2 mil nascimentos, naturais e
humanizados pelo Coletivo Nascer, o qual coordena. “Toda essa
movimentação que aconteceu na minha vida me fez despertar para meu papel social
de ajudar outras mulheres a entenderem que têm o direito de parir e deveriam -
o máximo possível - serem poupadas de cirurgias desnecessárias, que são
indicadas por questões de conforto, tempo e agenda dos médicos”, explica ativista
pelos direitos da maternidade, coordenadora do GAMA - Grupo de Apoio à Maternidade
Ativa e Doulas do Brasil e Co-autora do livro "Parto Normal ou Cesárea? O
que toda mulher deve saber (e homem também)".
Sonhos não possuem prazo de validade
O livro não se encerra no tema da
maternidade, até porque a decisão de ter um filho interfere diretamente na vida
e projetos das mulheres. Assumir a responsabilidade de gerar novas vidas, garantir
o sustento da casa e se estabelecer na carreira de jornalismo fizeram a jornalista
Fernanda Carvalho adiar o propósito de escrever o livro. "Quando lembrava
desse projeto abortado dentro de mim, sentia uma frustração enorme. Sabia que
ele precisava nascer, que não podia deixar um legado tão valioso só comigo”,
conta.
A finalização desse ciclo pela autora
também tem como objetivo dar um afago em outras mulheres que têm projetos na
gaveta, encorajando-as a seguirem em frente com seus sonhos seja gestando ou
parindo-os. “Agora que consegui colocar esse “filho” no mundo, quero incentivar
outras pessoas que sonham escrever um livro. E muitas vezes, o que elas
precisam compartilhar é algo único, uma mensagem que tem propósito e que vai
afetar positivamente outras vidas. E quando a gente desperta para a consciência
da nossa voz, já não se permite mais ficar silenciada", finaliza.
Fonte: Agência Educa Mais Brasil.
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