Porto Velho de Ontem e de Hoje - Entre lembranças e lamentos
![]() |
FOTO - Edição Rondonoticias e R1 Rondônia |
Quem vê Porto Velho envolta na violência brutal de hoje, muito mistério e dor, não imagina que outrora foi uma cidade, cuja história se entrelaça com a nostalgia de um tempo que, hoje, parece um retrato desbotado pendurado na parede do tempo que passou.
Isso mesmo! No passado, Porto Velho fora a capital rústica de Rondônia que, quando o trem apitava na Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a cidade ainda dormia. E foi também, palco de um cotidiano onde a simplicidade e a segurança eram os verdadeiros protagonistas de um cenário amazônico pitoresco e feliz.
Naquela época, a vida na capital rondoniense transcorria sem pressa, iluminada pelas poucas luzes que piscavam nas casas de janelas abertas e pela programação da Rádio Caiari. A criminalidade era um fantasma tão distante que nem os ecos de suas possibilidades perturbavam o sono dos moradores. Nas ruas, não havia asfalto, mas sim histórias de respeito mútuo dos pioneiros que pavimentavam os caminhos para a cidade fluir, e uma paz, cuja atmosfera, praticamente dançava no ar.
Os moradores viviam em harmonia, conectados pela linha de ferro e o vai e vem dos barcos que subiam e desciam no Rio Madeira. A economia girava em torno do transporte de borracha e castanhas, e a fauna exuberante da região complementava o cenário de beleza natural intocada.
Os indígenas, parte integrante dessa tapeçaria cultural, eram conhecidos por suas habilidades com arco e flecha, e as histórias de suas interações com os moradores locais eram contadas pelos adultos e por vezes com medo pela garotada que ouvia, e noutras com admiração. A bicharada, como chamavam os animais selvagens, também tinha seu espaço garantido na festa da biodiversidade local. Era um tempo de araras e papagaios que voavam livremente, confundindo-se com o verde da floresta, cujos limites da cidade ficava ali pelo Mercado do KM 1 na Sete de Setembro com Rua Brasília.
As crianças cresciam, cultivando enorme respeito aos pais e observando essas maravilhas, enquanto os adultos se reuniam nas frentes das casas para um bate-papo agradável ou no estádio Aluízio Ferreira para vibrar com as partidas de futebol do Moto Clube, Flamengo, Ferroviário, São Domingos, Cruzeiro, Botafogo, dentre outros. E os fins de semana eram marcados por missas na Catedral do Sagrado Coração de Jesus e pelos fantásticos Sermões de João Batista Costa, que reuniam a comunidade religiosa, com os homens vestidos de terno de linho branco, engomado, estalando...
Mas o progresso, embora necessário, veio e alojou no silêncio o Porto Velho de ontem, e o Porto Velho de hoje pinta um quadro bem diferente e desolador. A 'desgovernança' tem sido um pincel que, com traços desordenados, vem redesenhando a cidade com cores de medo e desconfiança.
Nos últimos dias, a violência, que antes mal se ouvia falar, se manifestou com uma ferocidade alarmante. As autoridades da segurança dormiram no berço da inércia e marginalia tomou. Nas últimas semanas a cidade é palco digno dos filmes de Alfred Hitchcock.
Notícias de mortes, incêndios criminosos em ônibus, execuções em série nas periferias, e uma criminalidade que cresce tão implacavelmente quanto a cidade, têm deixado os cidadãos acuados, transformando residências em fortalezas e quintais em pequenos campos de batalha onde cães são mais sentinelas do que companheiros.
Estranhamente, a cada novo amanhecer, os moradores acordam atordoados para saber quantas mortes ocorreram nos condomínios populares da cidade. Incidentes assim, crescem a perplexidade e o lamento por um Porto Velho se perdeu completamente no tempo e espaço.
O progresso chegou como esperado, mas trouxe consigo uma bagagem pesada de desafios que a cidade ainda aprende a gerir. Enquanto isso, os moradores se apegam às …
Nenhum comentário
Postar um comentário
- Seu comentário é sempre bem-vindo!
- Comente, opine, se expresse! este espaço é seu!
- Todos os conduzidos são tratados como suspeitos e é presumida sua inocência até que se prove o contrário!
- Se quiser fazer contato por e-mail, utilize o redacaor1rondonia@gmail.com