Libertários surpreendem com quase 41% dos votos; agora, Milei deve ter caminho facilitado no Congresso
O partido governista de extrema direita na Argentina La Libertad Avanza venceu as eleições legislativas realizadas neste domingo (26). Com mais de 90% das urnas apuradas, segundo dados do Ministério do Interior, a legenda do presidente Javier Milei recebeu 40,8% dos votos, em uma expressiva vitória.
Com isso, dos 127 assentos que estavam em disputa na Câmara dos Deputados, a coalizão libertária deve conquistar 64. Já a coalizão peronista Fuerza Patria, principal força de oposição a Milei, deve ficar com 31 cadeiras na Câmara, ao atingir 24,5%.
No entanto, o número da votação da chapa opositora ainda deve crescer, já que em distintas províncias o campo peronista se apresentou nas urnas com coalizões de diferentes nomes, mas que ao fim devem somar-se ao bloco. Segundo a imprensa argentina, o Fuerza Patria e as coalizões aliadas somariam cerca de 31% dos votos.
No Senado, onde se disputavam 24 assentos, o partido de Milei deve ficar com 13, contra 6 dos peronistas. A participação no pleito chama a atenção: 68,2% dos eleitores aptos votaram, a cifra mais baixa em uma eleição deste tipo desde a redemocratização do país, em 1983.
O pleito, que renova a metade das duas casas do Legislativo argentino, definirá a composição do Congresso para os dois últimos anos de mandato de Milei, elemento considerado pelos libertários como fundamental para seguir aplicando seu projeto de ajuste econômico, reduzindo o papel do Estado principalmente de áreas como proteção social e políticas públicas.
Isso porque nos últimos anos o Congresso tem sido uma barreira de contenção a vetos presidenciais que previam cortes bruscos em diversas áreas públicas como aumento de aposentadorias, ampliação de verbas para saúde pública e financiamento a universidades.
Por que Milei venceu?
Os resultados deste domingo não apenas supreendem pela diferença expressiva entre o primeiro e o segundo colocados, mas também porque pesquisas de intenção de voto semanas antes do pleito indicavam um empate técnico entre o partido de Milei o Fuerza Patria.
“Mesmo com a abstenção alta, essa vitória realmente deu uma chancela para o governo do Milei, para que ele siga com as reformas dele, com o programa econômico”, disse ao Brasil de Fato Samiyah Becker, pesquisadora do Programa de Integração da América Latina (Prolam) da USP.
Para Becker, especialista em política argentina, Milei deve agora reunir condições para pautar no Congresso todas as reformas que ele foi obrigado a retirar por não ter apoio suficiente nas casas.
“Ele já adiantou o projeto legislativo dele, agora ele chama de ‘Lei de Bases 2’. A lei que foi aprovada no ano passado foi desidratada, uma série de outras reformas que ele queria ter passado, mas não passou, agora ele quer colocá-las em pauta de novo. O objetivo dos peronistas era justamente frear esse avanço da motosserra, mas agora ele terá maior possibilidade de articular no Congresso para vencer com mais desmonte do Estado”, explica.
Além disso, o presidente vinha de uma derrota acachapante nas eleições provinciais de Buenos Aires, onde o peronimo obteve um excelente resultado com quase 47% dos votos, consolidou o governador Axel Kicillof como liderança nacional e viu crescer o otimismo para o pleito deste domingo.
Analistas apontam, também, o desgaste de Milei por conta dos escândalos de corrupção envolvendo sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, acusada de receber propina, e das investigações contra José Luis Espert, ex-candidato que estaria vinculado ao narcotráfico.
“Foi um balde de água fria”, classifica Becker. “Com os últimos acontecimentos do ano, com a economia indo mal, com os escândalos de corrupção, parecia que o peranismo tinha conseguido recuperar força, ter um controle um pouco maior da narrativa política, do debate público. E as eleições de setembro tinham dado um fôlego, mas isso realmente foi um golpe.”
Venceu Milei, venceu Trump
Duas semanas após a acachapante derrota em Buenos Aires, Milei gastou cerca de metade de seu discurso na Assembleia Geral da ONU para elogiar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu tarifaço, que chamou de “reestruturação sem precedentes dos termos do comércio internacional”.
À época, o governo argentino negociava um empréstimo para estabilizar o câmbio de US$ 20 bilhões (R$ 107 bi) com os EUA. Tal empréstimo foi formalizado em 20 de outubro e Trump prometeu outros US$ 20 bi, mas apenas se Milei vencesse as eleições deste domingo.
“Estamos aqui para apoiá-lo nas próximas eleições. Se vencer, seguiremos juntos. Se perder, não seremos generosos”, disse o presidente dos EUA. A frase transformou o que deveria ser um momento de glória para Milei em um incidente diplomático, considerado pelos argentinos uma ingerência externa na política do país.
Para Florencia Abregú, militante da Federación Rural Argentina e da Secretaria Continental da ALBA Movimentos, os resultaods deste domingo estão ligados à política dos EUA para a Argentina.
“Claramente, Trump venceu”, disse ao Brasil de Fato. “Eu acredito que Milei é um gestor para os estrangeiros. Nem sequer seus próprios eleitores compreendem, ele parece um assessor dos interesses externos”.
A ativista ainda destaca o alto nível de abstenção, dizendo que os jovens foram muito afetados pelas políticas de Milei. Além disso, lembra da prisão da ex-presidenta Cristina Kirchner, principal liderança do peronismo, que segue em prisão domiciliar.
“O que nós temos que fazer é construir força e liderança para ter um projeto político mais claro para 2027, nas eleições presidenciais. O preço do resultado deste domingo são os bilhões de dólares que entregam aos ‘yanquis’. Por isso, o governo não tem como sustentar a economia da Argentina”, opina. (Brasildefato)







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