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Críticos chamam novo "Superman" de "Superwoke"; saiba o que significa

Termo de teor negativo vem sendo ligado ao novo filme do super-herói da DC Studios

Um bebê chega à América vindo de um lar em turbulência. Uma família no Kansas o cria. E ele se esforça para equilibrar duas identidades.



Quadrinhos, programas de TV e filmes recontaram repetidamente esses detalhes da história de origem do Super-Homem nos últimos 87 anos, mas o diretor da mais recente adaptação para o cinema recentemente gerou controvérsia ao afirmar algo que já foi dito muitas vezes antes: o Superman é um imigrante.


"Quer dizer, Superman é a história da América", disse o diretor James Gunn ao The Times de Londres. "Um imigrante que veio de outros lugares e povoou o país, mas para mim é principalmente uma história que diz que a bondade humana básica é um valor e algo que perdemos."


Em um momento em que o governo de Donald Trump intensifica as ações contra a imigração, os comentários rapidamente provocaram críticas de personalidades da mídia de direita. Um banner da Fox News classificou o novo filme como "Superwoke" ("super lacrador", em tradução livre) enquanto comentaristas ofereciam suas opiniões.


"Não vamos ao cinema para sermos doutrinados e para que alguém nos imponha sua ideologia", disse a ex-conselheira de Trump Kellyanne Conway.


Dean Cain, ator que estrelou por anos na TV em "Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman" e agora é um comentarista conservador, disse ao TMZ que não gostou dos comentários de Gunn e especulou que a decisão do diretor de invocar a imigração enquanto promovia o filme poderia ser um erro custoso.


Até agora, não tem sido. O filme, lançado pela Warner Brothers Discovery terminou em primeiro lugar no fim de semana de estreia com US$ 122 milhões (cerca de R$ 680 milhões) em vendas de ingressos nos Estados Unidos e continua a atrair grandes audiências.


Fãs e historiadores de longa data dos quadrinhos notam que os comentários de Gunn não estavam sobrepondo uma nova história ao amado herói.


"A ideia de o Superman ser um imigrante, ou talvez um refugiado, tem sido parte do mito do personagem desde o início. Não é algo que ele inventou ou tentou encaixar à força", diz Danny Fingeroth, autor de "Superman on the Couch: What Comic Book Heroes Really Tell Us About Ourselves and Our Society".


A primeira história do Superman, publicada em 1938, afirmava que ele foi enviado à Terra de Krypton, um planeta fictício condenado.


"Isso o torna não um imigrante por escolha. Isso o torna um imigrante por necessidade... um refugiado", diz Fingeroth. "Ele é alguém que vem para a Terra e para a América para, então, se integrar e se tornar tão americano quanto a mãe, a bandeira e a torta de maçã."


Segundo Fingeroth, há muitas boas razões para que esses detalhes sejam uma parte tão crucial da história do Superman.


Criadores do Superman sabiam o que significava ser um imigrante nos EUA

Tomemos os criadores dos quadrinhos como exemplo. O artista Joe Shuster e o escritor Jerry Siegel eram ambos filhos de imigrantes judeus que haviam fugido do crescente antissemitismo na Europa.


"Apenas dados seus históricos e suas simpatias, acho que sempre foi importante que o Superman viesse de outro lugar", diz Fingeroth.


A dupla de Cleveland escreveu a história do Superman enquanto a Segunda Guerra Mundial se aproximava. A primeira página de sua história o descreve como "o campeão dos oprimidos".


“As nuvens do fascismo estão rolando pela Europa. Há ecos disso aqui na América... e as primeiras aventuras do Superman são para lutar pelo oprimido, lutar por mulheres abusadas, lutar por mineiros explorados, lutar contra políticos corruptos”, diz Fingeroth.


Mesmo antes de os Estados Unidos estarem lutando contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, o Superman já os combatia nas páginas dos quadrinhos, ele afirma.


Em meio a tudo isso, "o Superman é o imigrante que incorpora o melhor das qualidades americanas, mesmo vindo de outro lugar".


Essa é uma conexão que historiadores e defensores dos direitos dos imigrantes também fizeram. Mais de uma década atrás, o historiador de quadrinhos Craig This organizou um painel na Wright State University destacando as origens imigrantes do Superman e da Mulher-Maravilha.


A ideia ressoou com os estudantes universitários que ele estava ensinando na época, ele diz.


“As pessoas estavam chegando a esta grande universidade pública de pesquisa, talvez pensando que eram estrangeiras, e então disseram: ‘Ah, uau, olhe, posso ver esses indivíduos como modelos. Quero tentar me encaixar. Mas, na verdade, serão minhas diferenças que me farão sobreviver e ter sucesso, não apenas aqui no campus universitário, mas também aqui nos Estados Unidos’”.


Em 2013, as organizações Define American e Harry Potter Alliance lançaram uma campanha nas redes sociais convidando pessoas a compartilhar selfies e histórias de imigração de suas famílias com a hashtag #SupermanIsAnImmigrant.


Na semana passada, os criadores dessa campanha rechaçaram as críticas daqueles que vêm acusando Gunn de politizar sua visão do Superman.


“Não se pode politizar a verdade”, escreveram Jose Antonio Vargas, fundador da Define American, e o estrategista narrativo Andrew Slack no The Hollywood Reporter. “O Superman tem sido um ‘alienígena ilegal’ por 87 anos.”


Vargas, que já foi um imigrante indocumentado, diz que hoje vê uma mensagem ainda mais importante na história do super-herói.


“Acho que, pela primeira vez, por causa deste filme, por causa do que está acontecendo no país... tenho pessoas que nunca falaram comigo sobre imigração, falando comigo sobre imigração”, diz ele. “Então, temos a atenção das pessoas. Agora, acho que a questão é: o que elas farão?”


A história de imigração do Superman nem sempre é mencionada

É claro que a origem do Superman é apenas uma parte de sua história. E, no gibi inicial, também era um artifício de enredo conveniente, diz Fingeroth, permitindo que os autores explicassem seus poderes.


Em algumas versões, diz Fingeroth, "o status de imigrante do Superman não é mencionado". O herói poderia ser de Metrópolis ou do Kansas ou de qualquer lugar, "dependendo da era, dependendo dos criadores."


Cada versão do Superman traz suas próprias reviravoltas na trama. No novo filme, por exemplo, a história de origem dos pais do super-herói toma um rumo inesperado.


O Superman às vezes muda com os tempos, e por vezes diferentes públicos o percebem de maneiras distintas.


Muitos super-heróis são forasteiros. E um fio condutor comum que lhes confere tanta permanência é que pessoas de diversas origens se conectam com os personagens, diz Fingeroth, um editor de longa data dos quadrinhos do Homem-Aranha.


"Seus mitos, enredos e origens falam a vários aspectos da condição humana, e isso os torna atraentes. Suas aventuras são apreciadas por pessoas de uma ampla variedade de origens políticas, sociais e religiosas", afirma ele. "E, no entanto, os mitos são tão poderosos que todos os tomam como seus."


Em outras palavras, todos nós podemos nos ver no Superman. E essa pode ser uma razão pela qual tantas pessoas têm opiniões tão fortes sobre o personagem mesmo hoje.



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