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Pomeranos, uma saga em Rondônia

Pomeranos, uma saga em Rondônia

Montezuma Cruz*

O que têm a ver paraibanos e pomeranos? Inicio esta coluna em 1º de janeiro de 2025, comprometendo-me a atender a dois aspectos primordiais em tempos digitais: 1) dar o meu testemunho de fatos que vivi no extinto território federal e depois Estado de Rondônia; 2) ter o máximo de cuidado para evitar a inteligência artificial, pois, em se tratando de fatos passados e dos próprios acontecimentos atuais, nada substitui o olhar do repórter. A realidade deve estar em primeiro lugar.

Gentilmente, Pâmela Pimenta convidou-me a colaborar com o site, e o faço depois de um Natal inesquecível, no qual perdi minha irmã Celina Munhoz Arantes, aos 95. Ela foi professora durante mais de 30 anos no Pontal do Paranapanema (Estado de São Paulo) e muito me incentivou profissionalmente, desde o meu início pregando notícias em tábuas cobertas por flanela, tempos do jornal mural, no final dos anos 1960.

Passando dias atrás por São Leopoldo (RS) lembrei-me de teólogos, arqueólogos, antropólogos e sociólogos que ajudaram a escrever a história recente de Rondônia, entre os quais, Roberto Zwetsch, Lori Altmann e Arteno Spellmeier, presentes na Biblioteca da Escola Superior de Teologia daquela cidade.

Donos de relatos maravilhosos da presença evangélicos de Confissão Luterana no antigo território, eles contaram, com base em cartas e entrevistas, como se deu a migração de famílias de migrantes pomeranos para Espigão do Oeste (RO), a partir do Estado do Espírito Santo.

Pomerano é o nome dado aos descendentes germânicos que habitavam uma região chamada Pomerânia na antiga Prússia, na Europa. Os pomeranos possuem língua e cultura distinta dos demais grupos germânicos. Até hoje suas alegres festas tradicionais enchem os olhos das pessoas em Espigão do Oeste. No Brasil, estão concentrados especialmente nos estados do Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rondônia.

Rogério Sávio Link, autor do livro “Luteranos em Rondônia”, incorporou o trabalho desse grupo de pesquisadores, chamando a atenção pela riqueza de detalhes. Este, por exemplo: “Notícias sobre as terras que se perdiam de vista, que não ‘tinham donos’ e que ‘davam arroz no pé do morro’ aguçavam o desejo de desbravar e conquistar um pedaço delas. Assim, Emílio Braun e Pedro Hollander venderam suas coisas, juntaram suas famílias, alugaram dois caminhões e rumaram para o Território.”

Sugiro uma reimpressão (2ª edição), quem sabe, com fotos inéditas do repórter Kim-Ir-Sem Pires Leal, de Goiânia. Recentemente, ele nos brindou com o livro “Imagens de Rondônia” – e lá estão os pomeranos, em cores.

Os migrantes Braun e Hollander chegaram a Rondônia em 1969, acampando na vila de Pimenta Bueno, às margens do rio Barão de Melgaço. Martim Hollander, seu irmão Artur e outro parente saíram do Espírito Santo em 1967, numa camionete que levou dez dias para chegar.

Não há como estudar a história da ocupação rondoniense sem prestar atenção à mescla entre pessoas de cor morena ou negra, indígenas e brancas que fizeram Espigão do Oeste entre as décadas de 1960 e 1970.

Alguns estados destacam-se como aqueles que mais “expulsaram” pessoas para Rondônia, embora tivessem rumado para cá migrantes de todo o País. O Estado Espírito Santo se responsabilizou por 8,4% do total de migrantes.

Que destino o dos migrantes! As famílias Braun e Hollander enfrentaram frequentes atoleiros e barreiras policiais que os impediam de prosseguir viagem, visto que o tipo de transporte escolhido por eles, o pau-de-arara, era proibido por lei.

O estudo da saga migratória no âmbito acadêmico permite uma análise sociológica comparativa: famílias procedentes do Espírito Santo viajavam no mesmo tipo de caminhão coberto por lona e com bancos de madeira, usado nas viagens de paraibanos e outros nordestinos rumo aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro nos anos 1950.

Há muito mais a lembrar desse expressivo ciclo migratório, o maior da história, de diversas procedências, rumo a Rondônia. Voltarei ao assunto.

 

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*Chegou a Rondônia em 1976. Em dois períodos profissionais esteve no Acre, norte mato-grossense, Amazonas, Pará e Roraima, a serviço da Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Acompanhou a instalação do Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e a chegada dos recursos financeiros da Sudam, Polamazônia e Polonoroeste durante a elevação do antigo território federal a estado. Deu ênfase à distribuição de terras pelo Incra, ao desmatamento e às produções agropecuária e mineral. Cobriu Mato Grosso antes da divisão do estado (1974 a 1977); populações indígenas em Manaus (AM); o nascimento do Mercosul (1991) em Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina; portos, minérios e situação fundiária no Maranhão; cidades e urbanismo em Brasília (DF).



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