Indígenas isolados, cuidem-se
Montezuma Cruz*
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Frente Etnoambiental divulga foto de indígenas recém na T. I. Massaco |
Por se tratar de um desastroso risco de apagar a história brasileira, notadamente a amazônica, deixo ao leitor a pesquisa na internet para saber o resultado daquela maléfica ideia de Hausen.
A Diretoria de Proteção Territorial da Funai e sua Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé e Madeirinha-Juruena divulgaram a presença de indígenas isolados na T.I. Massaco em Rondônia, na região do Guaporé, e na área Kawahiva do Rio Pardo, em Mato Grosso.
Frente Etnoambiental divulga foto de indígenas recém na T. I. Massaco |
Segundo o coordenador da Frente, Altair Algayer, existem dados da forma como esses indígenas vivem e se desenvolvem. O nomadismo volta à pauta jornalista e antropológica, pois, entre outros aspectos, a Funai consta a aptidão desses indígenas pela caça e coleta, mantendo habitações tradicionais.
O coordenador da Frente Madeirinha, José Candor, explica – especialmente aos inflexíveis incrédulos, entre eles, alguns expansionistas agrícolas ou madeireiros mal-intencionados, que o objetivo das recentes expedições é a busca de informações para a execução de políticas públicas que protejam esses indígenas isolados. Está na Lei, é direito inalienável.
Obviamente, a notícia que corre agora o Mundo já inchou íris, pupilas e a mente gananciosa daqueles que imaginam que este estado com pouco mais de quatro décadas já teria consolidado suas políticas indigenistas. Pelo contrário, somos aquela Rondônia estranha, onde a terra indígena desperta altos interesses comerciais. Aqui, não perdoam nem os arredores do buraco onde sobrevivia um indígena Tanaru – o último de seu povo dizimado, entre Chupinguaia e Corumbiara.
No ano passado, o resultado da votação do tal marco temporal no STF demonstrou que a Constituição Federal precisa ser cumprida em todos os quadrantes pátrios, sem exceção. Se no início do século passado, o lendário Cândido Rondon defendia a vida indígena em terras ainda pertencentes a Mato Grosso, hoje constatamos que o respeito aos direitos desses povos é um compromisso ético, étnico e moral.
Por isso mesmo, a descoberta de indígenas ainda em isolamento vem demonstrar claramente que, antes da chamada “colonização de Rondônia”, esta terra “tinha donos.” Ou seja, num linguajar bem compreensível aos iminentes usurpadores, toda árvore conservada no Guaporé, todo rio e toda planta medicinal ali existentes, só estão vivos graças a esses seres isolados.
O encontro deles pelas frentes da Funai faz lembrar a reação do saudoso sertanista Apoena Meireles quando se aproximava pela primeira vez do Povo Uru-eu-au-au. Ele antevia a chegada de madeireiros e a situação de violência contra invasões.
A notícia da descoberta desses indígenas nômades em duas regiões amazônicas pressupõe novos debates. Uma das situações foi lembrada pela ambientalista e indigenista Ivaneide Bandeira, a Neidinha, da Kanindé Etnoambiental, quando comentou a proposta de parlamentares no sentido de se indenizar o setor rural “de boa fé” pelo benefício a terras indígenas em litígio e de onde muitos foram escorraçados anos atrás.
Há um aspecto importante na antropologia e ele deve ser lembrado em 2025: nenhum desses seres da floresta é nômade por diversão, mas por necessidade, e ela vem se tornando cada vez maior diante do cerco a que são submetidos.
Neidinha perguntava naquela ocasião: “Será que haverá um levantamento a respeito do que foi destruído da Terra Indígena? É porque quando fazem corte raso para a construção de curral e casas de fazenda também se destrói a natureza. Será que os indígenas serão indenizados pelas madeiras nobres tiradas, por tudo o que foi destruído? Eu defendo que haja, porque do jeito que indenizariam aquilo que chamam de benfeitorias à terra, as benfeitorias dos indígenas são a sua floresta.”
Acrescentava: “Se a pessoa tirou madeira nobre, derrubando e destruindo até igarapés, matou animais, fez um tanto de coisas, seria obrigada a restaurar tudo o que destruíram e devolver do jeito era esse ambiente aos indígenas? Eu acredito, então que tem que se pensar em indenizações dos dois lados.”
Enquanto Câmara dos Deputados e Senado Federal não decidirem pelo cumprimento da Constituição, essa batalha será tão dura quanto à normatização da exploração mineral. O ano começou, vejamos se as pautas incluirão os direitos dos povos indígenas – ao menos daqueles que implicaram a destruição do território onde viveram em paz antes de serem envenenados por arsênico, como ocorreu com parte dos Nambikwara do Vale do Guaporé.
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