1 em cada 4 mulheres acima de 16 anos afirma já ter sido vítima de algum tipo de violência
Na pandemia, o
problema da violência doméstica contra mulheres tem sido algo preocupante entre
organizações que lidam com o assunto. De acordo com o relatório “Visível e
invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, do
Instituto Datafolha encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (FBSP), a cada minuto, oito mulheres são agredidas no país e, na
pandemia, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sido vítima
de algum tipo de violência.
As notificações
são ainda mais problemáticas tendo em vista que nove em cada 10 mulheres não
confiam nos órgãos oficiais de atendimento à mulher vítima de violência, de
acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto AzMina, em
parceria com a consultoria Plurix, que ouviu 437 mulheres e homens de todo país.
Durante todo o
mês de agosto, chamado de “Agosto Lilás”, diferentes organizações chamam a
atenção para esses números dando luz a iniciativas que tentam reverter as
violências contra as mulheres.
Comandada pelo psicanalista
clínico Cezar Camargo, 40, a Fundação D'Camargo Centers é uma dessas
iniciativas. Com sede em Rolim de Moura, no estado de Rondônia, a instituição
busca auxiliar mulheres em situação de vulnerabilidade emocional, que passam ou
passaram por episódios de violência doméstica.
“O nosso
trabalho se inicia no acolhimento não apenas daquelas que já sofreram algum
tipo de agressão, mas também das que podem sofrer. Em conjunto com a Pastoral
da Menor, do Conselho de Mulheres e a Delegacia da Mulher da cidade, nós
ficamos sabendo de situações que ainda não chegaram as vias de fato mas que já
existe uma agressão verbal, o que gera uma tensão por parte da mulher”, explica
Cezar.
A Fundação
oferece suporte psicológico, jurídico, social e assistencial para mulheres que
passam por violência doméstica e que precisam de ajuda para se reerguer e ter
autonomia da sua própria vida e história. É uma rede de apoio com a intenção de
resgatar, a cada dia, a força e a coragem dessas mulheres que já sofreram tanto
no convívio com seus algozes.
Aos poucos,
tendo o suporte necessário de uma rede de profissionais multidisciplinares as
mulheres atendidas pelo projeto percebem que é possível sair da situação de
vulnerabilidade. Possibilitar a esperança de um futuro melhor para a vida de
mulheres que sofrem com a violência doméstica é uma das motivações da fundação
para continuar ativa.
“A gente não
pode fazer muito ainda, mas toda nossa equipe se empenha para levar um olhar
diferente de futuro para essas mulheres. Proporcionar qualificação, estudo,
disciplina, preparo. Fazer com que elas tenham uma visão melhor de si mesma,
escolhendo se amar, cuidar de si e, acima de tudo, mostrando que tendo uma rede
de apoio e força de vontade elas podem mudar suas vidas”, defende o
especialista.
Supervisora da Fundação
D'Camargo Centers, a engenheira ambiental Mari Lira é gestora ambiental e
enxerga no trabalho que eles desenvolvem a luz no final do túnel para as
diversas mulheres assistidas pela instituição. “O nosso trabalho é levar
esperança para aquelas que precisam de que elas podem permear um caminho
diferente. Ajudamos para que descubram exatamente onde querem chegar. Então, é
uma trilha de esperança com diversas metas, para que essas mulheres consigam
ver que é possível sair de uma relação abusiva e falar ‘estou livre, estou
salva, estou bem, estou curada’”, defende Lira.
Agosto lilás com Afeto
Outra iniciativa
que tem auxiliado pessoas em situação de violência doméstica é a Rede Afeto
que visa dar apoio, fortalecimento, escuta e troca de orientações para meninas
e mulheres em situações de vulnerabilidade. Comandada por Suzana Coelho,
coordenadora do curso de Serviço
Social da Universidade Salvador (Unifacs) e responsável técnica pelo
projeto, a Rede Afeto começou como um espaço para ajuda de estudantes
universitárias que sofriam abusos. O suporte ultrapassou as fronteiras da
universidade.
“Criamos o Instagram
e divulgamos alguns cards de orientação, mensagens de motivação e, além das
alunas da própria faculdade, mulheres fora do convívio acadêmico começaram a
seguir a página e demandar de nós algum tipo de acolhimento. Então, nos
estruturamos e hoje somos um grupo formado por estudantes e egressas dos cursos
de Psicologia,
Medicina e Serviço Social. Começamos a fazer rodas de conversa, convidando as
pessoas para bate-papos e assim fomos nos aproximando”, conta a coordenadora.
Com objetivo de
ampliar ainda mais o alcance das informações compartilhadas, a Rede Afeto vai
realizar, o I Simpósio Agosto Lilás: "Reflexões multiprofissionais sobre o
ciclo de violência contra a mulher", no dia 28 de agosto, às 13 horas. O
evento oferece certificação de 5 horas. A mesa de debate contará com a presença
de profissionais de Serviço Social, Psicologia, Direito e Medicina, além de
convidadas da Central Única das Favelas (Cufa) que participarão da abertura e
do encerramento do simpósio com apresentações culturais. A live será realizada
no Youtube e o público pode se inscrever através do formulário.
Combate através do Twitter
O Instituto
AzMina em parceria com o Twitter desenvolveu a assistente virtual Penha. De
forma rápida e fácil, as mensagens trocadas pelo Direct do Twitter ajudam na
identificação de sinais de relação abusiva e orienta como interromper situações
de violência de forma segura. Para receber um atendimento, basta enviar uma
Mensagem Direta (DM) para o perfil @revistaazmina no Twitter.
“As plataformas
digitais são um espaço fundamental para a conscientização acerca da violência
doméstica. Nos últimos anos, vimos crescer a confiança de mulheres no uso de
aplicativos para o registro de denúncias de assédio e violências. Na conversa
com a Penha, a mulher vai saber mais sobre relacionamento abusivo, aprender
como ajudar outra mulher nessa situação e receber orientações importantes de
serviços gratuitos próximos a ela”, explica Marília Moreira, gerente de
projetos do Instituto AzMina.
Quem precisar
ser atendida pela assistente Penha vai receber informações sobre os serviços da
rede de atendimento à mulher mais próximos. Entre eles estão os locais
públicos de denúncia como a Delegacias da Mulher, Defensoria Pública e
Ministério Público, serviços de assistência social, acolhimento, a exemplo da Casa
da Mulher Brasileira e outros centros de referência e unidades básicas de saúde
e serviços de violência sexual e aborto legal. O importante é fazer chegar a
mensagem para quem sofre de abusos de que qualquer tipo de violência é
inaceitável.
TAGS: Violência, Violência Doméstica, Agosto Lilás, Lei Maria da Penha
Fonte: Agência Educa
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