Matrículas foram canceladas e ficou difícil manter a qualidade sem deixar o orçamento no vermelho
O ambiente escolar na visão de
diferentes educadores não é apenas um espaço físico onde a criança aprende a
ler e escrever podendo ser, também, o resultado de sonhos e inquietações para
uma educação inclusiva e de melhor formação. Foi pensando por esse ponto de
vista que a professora Jamile Tupinambá decidiu transformar a frustração com o
ensino básico em oportunidade de educação humanizada.
Após passar por diferentes
instituições de ensino públicas e privadas, Jamile se viu frustrada com a forma
que a educação era oferecida aos alunos. Ao perceber que não era apenas uma
questão local, mas, sim, social, Jamile quase desistiu de ser professora. Na
sua percepção, a educação era, muitas
vezes, oferecida sem olhar para os estudantes enquanto pessoas, com suas
individualidades e aguçando pouco a busca divertida pelo conhecimento.
Quando uma pós-graduação surgiu em seu caminho,
possibilitando contato com a escritora, educadora e jornalista Dora Incontri,
na Universidade Livre Pampédia, Jamile pôde conhecer uma forma diferente de
ensino.
“Eu consegui ver um formato de
educação diferente. Uma educação democrática, onde o aluno tinha voz, onde era
participativo. A escola também tinha uma gestão participativa e plural, onde
todas as crenças eram respeitadas... só que era em uma universidade. Aquilo me
abriu os olhos, deu prazer pensar em algo semelhante para o universo infantil.
Era possível também fazer igual”, refletiu Jamile.
Do sonho à realização
Com o propósito de oferecer uma
educação diferente, Jamile fundou, em 2018, a Escola Pampédia – Espaço Livre de
Educação. Aproveitando um espaço de um antigo
restaurante do seu pai, em Camaçari, região metropolitana de Salvador, a
educadora investiu em bons materiais de apoio, profissionais competentes e
tecnologias diferenciadas do que eram oferecidas pelas escolas da região.
“Toda estrutura da escola é
diferenciada, com espaços livres de aprendizagem onde as crianças não ficam
presas somente na sala de aula. Investi em materiais franceses e os professores
fazem terapia pra poder lidar com suas questões e ensinar bem”, conta.
A pequena Maria, 6 anos, foi a
primeira aluna matriculada na Pampédia. A mãe Gabriela Marins Carneiro procurou
a escola, na época, por não ter tido uma experiência positiva com uma
instituição de ensino anterior. O olhar individualizado com cada aluno e a
estrutura da Pampédia chamaram a atenção. “Família e escola são uma equipe para
formação de um ser humano bem orientado na sociedade. A escolha foi pensada com
cuidado e não nos decepcionou. Eles cumpriram com o que se propuseram e o que nós levávamos de dúvidas
ou pontos divergentes eram ouvidos e negociados. E isso também é incentivado
nos alunos, o questionamento de tudo”, avalia Gabriela.
Atualmente, o ensino oferecido pela
escola durante a pandemia tem sido, para Gabriela, essencial para aprendizagem
de Maria. “Ela é uma criança extremamente ativa e sociável e ter que ficar ‘presa’
em uma tela pelo período da aula é tedioso. Então, eu não acreditava que minha filha pudesse
ler e escrever ainda esse ano, pela dificuldade mesmo do ensino remoto, mas,
com todo suporte que tivemos, ela já está com essas habilidades bem desenvolvidas
e caminhando junto com a turminha”, comemora a mãe.
Difícil realidade
Apesar das dificuldades
intensificadas pela pandemia, a Escola Pampédia segue buscando se manter em pé
por acreditar na transformação social por meio de uma pedagogia humanizada. As
aulas voltaram presencialmente nessa segunda-feira (19), obedecendo as medidas
sanitárias. Jamile encara seu trabalho, não como um negócio, mas como um
propósito de vida. “Se fosse negócio, já tinha desistido porque estamos há três
anos no vermelho. Qualquer outra empresa já teria fechado. Então, é um ideal mesmo.
É uma luta, a minha missão é humanizar a educação e compartilhar esse
conhecimento com o maior número de pessoas”, reflete.
Para não fechar as portas, a escola
resolveu fazer uma rifa solidária, um dos últimos recursos para ajudar a manter
a escola aberta. O objetivo é arrecadar o valor de cinco mil reais para auxílio
das despesas da instituição.
Cada bilhete custa R$ 25 e pode ser
adquirido por meio do endereço https://botanarifa.com/unxkzlrg. O sorteio ocorrerá no dia 25 de
agosto por meio da Loteria Federal.
O vencedor ou a vencedora ganhará
três livros da Editora Comenius, são eles: “Pampaedia” e “Labirinto do
Coração”, do educador Checo Jan Amos Comenius, e o livro infanto-juvenil
“Comenius, o sábio que queria ensinar tudo a todos”. Além disso, há também um
quadro e 12 pôsteres da coleção Expressões do Sagrado, da artista Katia Del
Giorno.
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